sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Cachorrada Australiana

Hoje, 7 de novembro de 2013, vi um documentário no programa 7:30 da TV ABC sobre a exploração de cães de corrida na Austrália e fiquei chocada.

Para quem não sabe, eu adoro animais, e sofro muito quando venho a saber que está havendo crueldade com algum animal em algum lugar (menos cobras e lagartos). Mas vivendo aqui na Austrália, de vez em quando estou com meu coração na mão. A um tempo atrás foi o problema da crueldade com as vacas importadas da Austrália nos matadouros da Indonésia.

Agora estoura este escândalo nas corridas de cachorros.

Cachorrada de corrida
Minha filha estudou numa escola que alugava andares num prédio bastante esquisito. O prédio fica num parque enorme, até com vista para uma baía, com direito a viaduto de trams (trenzinhos urbanos). 

Na frente deste prédio que foi construído no formato de meia lua, fica uma pista de corrida ao redor de um campo de esportes gramado. O prédio é muito vistoso porque os andares tem imensas vidraças que dão para este circuito, e em cima tem uma marquise enorme que lhe dá um tom de arquitetura arrojada.

Observatório de cães
Pois bem, naquele campo existe uma pista que é de corridas de cachorros. O escândalo estourou por causa de novas leis para testar os cachorros este ano, então vários criadores de tais cachorros foram pegos fazendo o que não devem com os animais. Onde rola muito dinheiro, rola corrupção, então estas são as palavras envolvidas no escândalo nacional: propinas, ficção, fraude, eutanásia, falta de transparência, jogo de azar (“gamble”).

Exames obrigatórios mostraram que grande percentual dos cachorros, que são da raça Greyhound (Galgo), estavam sendo drogados. As drogas variam de cocaína, anfetaminas, cafeína, esteróides anabolizantes, testosterona nas cadelas até viagra para os cães ficarem louquinhos.


Galgo by Stephen Laberis
Denúncia de crueldade animal também, porque nem todos os cães desta raça servem para correr, então eles são assassinados via eutanásia. A repórter falou que só com sorte um destes cães vai parar num veterinário para sofrer eutanásia. Tudo é feito domesticamente mesmo. Só 40% deles correm. Está uma briga danada pelas pessoas querendo salvá-los adotando como “pets” (bichinhos de estimação) por serem doces e amigáveis. Eles são bem magrinhos, esquisitos e bicudos, com pernas enormes e uma silhueta de dar inveja às top models de hoje, coitadinhos. Por serem assim, eles correm muito que nem gazelas no deserto africano.
Cachorro Greyhound

Na corrida colocam algo na frente deles que corre num trilho ao redor da pista. Eles saem atrás desses negócios que os fazem correrem. Será que são salsichas ou belos pedaços de carne?

Particularmente o que partiu meu coração foi ver um se desgarrar da pista e se estatelar lá na parede protetora, provavelmente quebrando uma perna, e gritando, coitadinho. Um outro também gritou muito numa jaula de um criador que denunciou o esquema de jogo de azar e exploração dos cachorros. Não sei se este era o mesmo que sofreu o acidente, mas ele estava com curativo na perna. Os outros donos de cachorro sacrificam eles por isso, tal como se faz tradicionalmente com os cavalos, que não valem nada se não dão dinheiro. É muita crueldade. 


Galgos
Com as drogas, criadores que amam seus cachorros não tiveram mais chances de ganhar corridas, virou negócio de cafajeste. Os safados chegam a pagar propinas para que os resultados dos exames de urina dos cachorros não mostrem que eles estão drogados. A corrupção está comendo solta. E vocês que pensavam que propinas eram uma instituição brasileira, né?

70.000 cães corredores são mortos todo ano na Austrália, é um número muito alto. É alta cachorrada que eles fazem com os cachorros. As apostas são altas, como em todos os jogos de azar e cassinos que são permitidos na Austrália e fazem a desgraça de muita gente. 

Opa, foto errada
A Copa de Melbourne

Até hoje não entendi porque é que a Austrália inteira pára durante uma tarde no início de Novembro todo ano para assistir uma tal corrida de cavalos em Melbourne que dura só 15 minutos. É a coisa mais ridícula que você possa imaginar. Enquando o Brasil pára 4 dias para dançar carnaval, eles aqui param meio dia para ver os cavalos na TV durante 15 minutos. Alguns lugares fazem deste evento um espetáculo com comidas, bebidas e gente bem vestida, e promovem apostas domésticas, as sempre presentes apostas. São o embrião da jogantina nacional, o nascimento das apostas. Lá em Melbourne, rola muito dinheiro e as apostas são milionárias, bem como os cavalos e seus criadores.


A copa equina de Melbourne
A particularidade desta “festa” (eu diria “programa de índio”) são os chapéus das mulheres. 

A atração dos chapéus riquififados chega a ofuscar os cavalos, tal é o “esplendor” caleidoscópico. 

Copa dos chapéus
Cada uma pior, quer dizer, melhor do que a outra, galinhando para os repórteres que adoram mostrá-las todas sorrisos. Patricinhas e peruas, montadas em seus “high heels” (saltos altos) com vestidos espalhafatosos, elas colocam chapéus que concorreriam com os das mulatas das escolas de samba da Sapucaí no Rio de Janeiro. Cada chapéu mais ridículo do que o outro, no entanto, elas gostam e estão sempre crentes que estão abafando, pois com certeza são fotografadas para as notícias da semana inteira. É uma tradição, provavelmente britânica e o jeito é trocar de canal cada vez que eles tocam no assunto.


Os chapéus de Melbourne, em toda a Austrália
A Austrália Ama Seus Bichos

Todo mundo enche a boca pra dizer que este país ama os animais. Eles idolatram os cavalos nesta corrida, os cães corredores são seus heróis e lhes rendem grana, muita grana, e praticamente todo mundo tem “pets” (bichos de estimação). Tem gente que tem os “pets” mais exdrúxulos do mundo, tipo iguana. Mas quando você quer alugar uma casa ou apartamento e eles descobrem que voce tem um “pet” (cachorro ou gato), nessas horas eles odeiam animais e você junto. Você tem que procurar 10 vezes mais do que as pessoas comuns até achar um senhorio que aceite o seu bicho de estimação, e quando não tem que oferecer mais do que eles estão cobrando para ter tal regalia. 

Isso é porque a Austrália ama seus bichos de estimação, imagina se não amasse. O amor é apregoado aos ventos em mais amostras de profunda hipocrisia e falsidade porque é tudo mentira, amor de fachada. Isso porque o percentual de pessoas que possui bichos de estimação é dos maiores do mundo, mas também é muito alto o número de pessoas que abandonam seus animais enquanto outras pessoas tem dezenas de cachorros e gatos em casa no meio da maior imundície, que é quando os vizinhos reclamam, denunciam, e acabam filmando para a televisão. Como é que pode, me digam? Vocês acham o Brasil contraditório? Pois pensem duas vezes.

Bichos, não senhor
Se você vai comprar uma casa com quintal, ninguém vai perguntar se você tem cachorro ou não, mas se for comprar um apartamento, tem que ligar primeiro para a administradora do condomínio pra pedir autorização para seu cachorro, senão, nada feito.

Apesar deste amor todo declarado aos ventos, muitos vizinhos reclamam dos bichos dos outros, mesmo de quem cuida direito e o bicho não incomoda. Um exemplo belíssimo é o da vizinha de uma amiga minha que tem um cachorro que está ficando velhinho. Quando ele espirra, pode ser que venha a sujar o corredor de acesso aos apartamentos. Pois bem, esta mulher sempre sorri para minha amiga e afaga o cachorro dela, no maior amor, respeito e amizade. Pois foi ela quem denunciou na portaria que minha amiga deveria limpar o corredor por causa da sujeira do seu cachorro. Minha amiga foi admoestada publicamente em meio ao hall de entrada pela porteira, um verdadeiro vexame que a deixou possessa. Ora, porque aquela p... que não me disse pessoalmente? Porque aqui as pessoas são assim, estou cansada de dizer, elas não tem coragem de lhe enfrentar, então elas sorriem pra você mas lhe enfiam a faca pelas costas. São traiçoeiras, preferem agir sorrateiramente por trás, não se pode confiar nelas, e por conta disso, é muito difícil se fazer amizade com pessoas falsas desse jeito a não ser que você seja igual a elas, coisa que não sou.

Poor things (expressão muito usada, "pobres coisas")
Alguns brasileiros se gabam de soltar o verbo e rodar a baiana quando estão descontentes com alguma coisa, denunciando os perpretores que ficam caladinhos. Estes brasileiros pensam que ganharam a parada e intimidaram o culpado. Não sabem eles que vingança é um prato que se come frio, e o que esse pessoal puder fazer pra preparar-lhe a cama, saia de baixo e da vista deles. Eles não são assim tão anulados quanto parecem, é só fachada. Por dentro arde um demônio.

Quando morávamos em casa, havia cachorros nos dois vizinhos. Um deles defecava sempre no oitão da casa que dava para a parede da nossa garagem, e era onde mantínhamos os latões de lixo. Trafegar naquele oitão era um terror por causa do cheiro e das famosas moscas grudentas de Canberra. Os donos simplesmente não limpavam e o local ia acumulando excrementos. Graças a Deus esta família logo se mudou.

Em compensação a do outro lado adquiriu um cachorro “usado”, destes abandonados pelos donos anteriores, uma verdadeira praga australiana. Todo mundo faz isso a certo grau e chega a existir bons samaritanos que mantém hotéis para animais abandonados, às custas de doações. A organização principal chama-se RSPCA e é internacional. Eles tem caminhonetes que recolhem os bicho abandonados quando alguém denuncia onde eles estão, vão buscar, e colocam neste verdadeiro hotel. Eles então anunciam os bichos para adoção, e muitas pessoas quando querem bichos, vão lá buscar um dos enjeitados, coitadinhos. As pessoas não titubeiam, tudo é motivo para abandonar os bichos. Tem até gente que vai lá só para fazer os cachorros passearem. Estes com certeza amam os animais de verdade.


Porque "petty crimes" são chamados assim? Crimes de estimação (como bater carteira)?
O cachorro da outra vizinha então era muito mal tratado. Me dava uma pena enorme ver o coitadinho sem ter onde se esconder do sol escaldante através da cerca do quintal. Eu então pegava minha mangueira e dava uma chuveirada no coitadinho que ficava louco de alegria e agradecido. Por vezes eu também dava comida, pois os donos saíam por dias e deixavam o cachorro lá ao léo, latindo. Eles nunca souberam disso.

E todo mundo já sabe que meu cachorro não pode botar o pé na rua que contrai as pulgas dos outros. Estes bichos de Sydney são cheios de pulgas e outras doenças, e são tratados com fórmulas químicas que nunca dão conta das pestes, pagando-se uma fortuna aos veterinários, uma classe terrivelmente incompetente. Os bichos acabam desenvolvendo outras doenças por conta.


Tê-tê-tê-tê-tê-tê, lourinho...
As autoridades estão de plantão para resolver mais este problema envolvendo a cachorrada australiana das corridas. É cachorrada pra lá, cachorrada pra cá, cachorrada pra todo lado. Outro dia minha filha falou pra gente, todos os cachorros da Austrália deviam ser criados como o nosso. Que lindo! Nosso cachorro é mesmo criado com muito amor, e com amor ele nos paga, é a alegria da casa e todo dia damos gargalhadas com ele. Ele é quase um meninozinho, só falta falar.



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