quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O Bush Australiano

Não, não é o mesmo Bush americano. O “bush” australiano é o grande deserto central.
 
O tal do famoso “bush” ou “outback” australiano não tem nada. É um nada, um imenso nada.
 
Como os americanos, eles aprenderam a “vender o peixe”, então tiram fotos belíssimas, como os americanos sempre fizeram com o Havaí, e espalham pelo mundo como maravilhas da natureza.
 
Tem inglês que se admira e gosta deste imenso vazio, mas é porque inglês também não tem muita coisa melhor pra ver na terra deles.
 
O “bush” é chamado assim porque a vegetação são matinhos ralos e baixinhos pois com a secura do continente não cresce muita coisa. “Bush” quer dizer “mato”, mas quando falamos “mato” no Brasil, logo imaginamos uma vegetação densa que nos cobre toda ao ponto de ninguém saber onde estamos. Aqui, você não consegue se esconder porque o mato é ralo e não lhe cobre de jeito nenhum.
 
No tal do “bush” tem muitos perigos como cobras e lagartos venenosos, os mais venenosos do mundo que só tem aqui. Você pensa que naquele matinho não se esconde nada, mas é talvez mais perigoso do que as selvas brasileiras. Como o continente australiano é imenso, vazio, deserto e plano, o tal do “bush” não acaba nunca. Ele é plantado sobre barro vermelho que deixa tudo vermelho e quando o vento dá, ele forma verdadeiros redemoinhos e tempestades de areia conhecidas como “gast wind”. Acompanhado de chuva fina este barro voador pousa no seu carro, na sua casa, em toda parte, sujando tudo. Fica tudo cheio de gotinhas secas vermelhas, uma lindeza.


Esta tal tempestade vem de longe, do deserto, mas atinge as cidades. É de um jeito que um dia Sydney ficou totalmente vermelha e saiu nos noticiários do mundo inteiro. Ninguém enxergava um palmo adiante do nariz, e parecia que estava amanhecendo ou entardecendo durante o dia inteiro, tudo escuro e avermelhado, realmente algo bem diferente. Nós não estávamos morando aqui ainda para ver este fenômeno da natureza, só vimos pela TV e fotos nos jornais.

O autibéque ("outback", http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/43/Outback.JPG 
O “bush” é chamado de “outback” (autibéque) porque ele fica lá, bem longe, no fundo do quintal (outback), para onde ninguém vai. Mas tem gente que vai, então são famosos os crimes na região, pois, claro, no meio do nada, o que ela vai fazer lá? “Aventuras”, dizem. Tem gente que pega carona pra passear com a mochila nas costas, chamados “mochileiros” (“backpackers”). Eles conhecem o mundo desse jeito. Sorte deles se nada lhes acontecer e, é claro, só acontece com uma minoria, mas isso já é o bastante pra me espantar e espantar meus filhos que nunca quiseram tentar isso.
 
Então, no meio do nada tem umas pedrinhas. Algumas pedrinhas são grandes, mas tão desgastadas, tão erodidas, que ficaram redondas. Assim é a montanha de Uluru, que fica no centro da Austrália. O que eles fazem de propaganda desta montanhinha não está no gibi. Pois bem, para quem gosta, tem uma cidade nos pés dela, uma das muitas cidades australianas que se parecem umas com as outras. São arrumadinhas, mas depois que você conhece algumas, enche o saco porque não tem mais nenhuma novidade. E, principalmente, o povo é sempre o mesmo, ou seja, não vale à pena, só para quem gosta de deserto mesmo.
 
Nos lembramos de uma vez em que demos a graça da nossa presenca numa pequenina lanchonete numa destas cidadezinhas do interior da Austrália. E olha que essa cidade ficava bem perto de Canberra, chamada Bungendore. Os caipiras ficavam olhando pra a gente como se fôssemos marcianos. Daí minha filha começou a sangrar o nariz por causa da extrema secura e de sua capilaridade delicada, aí foi que o povo olhou mesmo e as crianças não tinham nem o cuidado de disfarçarem. Pra nunca mais. Nunca mais descemos em lanchonetes por aí. Pior que na lanchonete não tinha absolutamente nada de interessante, atraente ou gostoso. Um desastre total, como todas as lanchonetes daqui. Só sobra as McDonalds e outras franchisings mesmo.
 
O “bush” domina toda a Austrália, mas o sudoeste da Austrália é um pouco mais verde. Canberra fica no meio do “bush”, e por isso é chamada de capital do “bush”. Mas ela ainda fica numa área cheia de vegetação, meio ralinha, mas ainda tem. Mais além de Canberra não tem nada, é uma desolação. As árvores são esturricadas, tipo eucalipto que aqui tem demais mas que não cheiram como os brasileiros, como aqueles que tem na estrada que vai de Sergipe para Bahia pela costa. As árvores são tão secas que as cascas ficam caindo, dá um nojo! As folhinhas são diminutas porque folhas grandes são coisa de lugar tropical. Parece que para curtir o máximo do clima as plantinhas desenvolvem folhinhas miúdas, por isso não dão sombra e deixam passar o calor.
 
No “bush” não tem água. O que tem são poços cavados pelas pessoas, chamados de Billabong. Isso mesmo, aquela marca de roupas de surfistas conhecidas no mundo inteiro significa barreiro cheio de lama no meio do nada. Nome bonito, não é? É aborígine!
 
Os rios do “bush” são “creeks” (criques), ou seja, são fios de água “encrencados” no meio das rochas em profundos sulcos, a maioria deles sêca, que só enche quando chove, o que é coisa rara. Então a maioria das pontes passa por cima de nada. Mas por conta da terra ser plana, de repente pode chover tanto que alaga tudo, e salve-se quem puder, porque a correnteza é arrasadora e leva tudo. Estas chuvas podem ocorrer bem longe, e a água vem rolando campina adentro. No início deste ano teve inundações terríveis no nordeste da Austrália que arrasaram com tudo, e chegaram a inundar a cidade de Brisbane.

Aventura é o que não falta na Austrália, como podem ver.




Desesperadas de sede, as ovelhas frequentemente se atolam na lama; as sortudas são resgatadas. Naringal, Victoria. Picture: Susan Gordon-Brown
http://www.theaustralian.com.au/news/gallery-e6frg6n6-1225792800560?page=4

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