sábado, 9 de julho de 2011

Excelente Serviço Social II

A Prova de Identidade Macabra

Continuação...

Daí fomos levar os documentos no escritório do serviço social num bairro contíguo. Primeiro, ficaram meu marido e nossa filha na fila e foram atendidos por uma mulher num balcão que alí mesmo olhou os documentos e, segundo ela, não foram o bastante para provarem que minha filha era ela mesma.

Coisa muito comum na Austrália de hoje em dia.

A começar que não existe uma carteira de identidade. Não me perguntem porque, mas parece que as pessoas se sentem rotuladas, humilhadas, ultrajadas por terem que carregarem um documento de identificação. Então a carteira de motorista foi eleita a tal da identificação, porque supostamente todo mundo tem, tem foto e enderêço. Ou seja, ao invés de identidade, a pessoa tem “carteira de motorista”! Então, qual é a diferença?

Esta “decisão” leva a um agravante muito pior. Se você não dirige, então você não existe! É a ditadura do automóvel! Você não tem identidade! É o meu caso e o da minha filha. Valha-nos dizer que não dirijo porque não quero, não gosto, posso sobreviver sem dirigir e tenho o direito de escolher. Já minha filha não pôde tirar a carteira de motorista como seus colegas por ser jovem demais e estar no mesmo ano escolar que eles. Depois que a onda passou, ela também não se interessou. Filha de gata é gatinha!

Isso quer dizer que eu e minha filha não existimos, não temos identidade. Existe um cartão de identidade que o governo dá para quem não existe, quer dizer, não dirige, e que eu tenho, mas este cartão não costuma ser aceito em quase nenhum lugar, pode uma coisa destas? Que governo mais desmoralizado! Quanto à minha filha, obviamente que a carteira de estudante deveria servir de identificação, mas também não serve. Pode?

Aliás, a carteira de estudante conta poucos pontos no total de 100 pontos que a pessoa tem que fazer através de documentos pra provar que ela é ela mesma. Cada dia as instituições e empresas inventam mais uma complicação destas. E por quê? Por causa do número absurdo de caloteiros! Já viu este filme?

Então, era preciso trazer mais identificações da minha filha. Acontece que o passaporte dela venceu e não atualizamos porque não viajamos para o exterior todo ano, é claro. Afinal estamos do outro lado do mundo. Então o passaporte não era aceito por estar vencido. Ora, veja você: o motivo é ter o visto de entrada no país registrado no passaporte e é no passaporte vencido dela que está seu visto de entrada na Austrália. Se ela tirar um novo, não vai ter aquele visto, veja que imbecilidade! Na realidade ela não precisa de passaporte nenhum, pois é cidadã australiana e tem certificado. Que mais prova de identidade é preciso além de um certificado de cidadania dado pelo governo? Ou melhor, que governo é esse, minha gente?

Pois bem, acabamos voltando pra casa fulos da vida para trazer tudo quanto fosse identificação da menina outra vez.

Então, liguei para o serviço social contando o que aconteceu e pedi orientação sobre o que mais poderia levar e foram sugeridos alguns documentos. Então separei certidão de nascimento em Português, tradução juramentada em Inglês, certificados de conclusão de curso secundário, e até os prêmios que ela recebeu na escola, porque estava tudo lá no meio do arquivo dela.

Voltei lá no outro dia com minha filha e apresentamos tudo que foi pedido, mas a estória ainda não tinha terminado! Faltava o tal formulário, na realidade um questionário que seria entregue junto com a comprovação de salário do meu marido. Volto no terceiro dia, sozinha desta vez, com os últimos documentos solicitados. Ora, eles já têm a comprovação de salário do meu marido entregue anualmente pois sempre recebemos outros benefícios para os filhos, mas deixa pra lá.

A estas alturas, vocês pensam que foi tudo resolvido, não é?

Me aguarde.

Continua...

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