terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Austrália Invisível

Ultimamente escrevi sobre os insetos e os perigos que nos rondam quando não sabemos de nada sobre um país em que vamos morar já crescidinhos.

Isso porque a gente aprende muita coisa quando é criança, e uma delas é a conhecer os bichos que nos rodeiam. Ninguém nunca se lembra desse tipo de coisa quando resolve imigrar pra outro país, mas esta “ignorância” pode ser fatal.

Agora vou escrever sobre coisas ainda piores do que insetos e bichos que a gente nunca viu mais gordos e que podem ser fatais.

Vou falar sobre bichos que a gente nem consegue ver!

Não, não são almas de outro mundo. São bichos que povoam nossa vida diariamente e a gente nem se dá conta de que eles existem.

Bem, no nosso país de origem, a gente aprende a se defender deles desde criancinha. Nossas mães, paranóicas com limpeza e higiene, nos ensinam desde cedo a lavar as mãos, escovar os dentes, tomar banho, e outras coisas mais como não sentar no chão, não usar roupa curta em lugares públicos, não sentar em toalete público, não beber água da torneira, água de bebedouros, saber onde pegar, não comer coisa do chão, não rolar pelo chão, não sentar nas calçadas, não botar o pé na lama, e uma pá de regras de higiene que todo mundo sabe, até mesmo quem mora nas favelas.

Pois é, minha gente, a gente vem pra outro país e a tendência é se descuidar, porque tudo parece tão “limpinho”, sem papéis nem sacos plásticos voando pelas sarjetas... cala-te boca. Isso é que os brasileiros mais notam quando visitam o exterior, “é tudo limpo, não se vê um papel no chão". Geralmente eles se referem às fotos. As pequenas sujeirinhas não costumam sair em fotos, a não ser que você queira que elas saiam e bote o fóco nelas.

Então, de repente, você se vê às voltas com outras coisas que não conhece, que não foi ensinada.

Aqui na Austrália, por exemplo, criança senta no chão, rebola, se deita, come coisa do chão na frente dos pais, os pais fazem a mesma coisa. Já falei que as chupetas não tem tampa, quando caem no chão, as mães lambem e botam de volta na boca do bebê. Não se lava as mãos, é famosa a história entre os homens que vão no toalete e não lavam as mãos, e depois pegam na maçaneta. É como se os outros pegassem nos ... deles, mas ninguém se lembra disso.

As pessoas usam toaletes em todo canto, e as mulheres ainda deixam eles entupidos de... bem, vocês sabem o quê. Aqui não tem aquele batalhão de zeladores e faxineiros que tem no Brasil em toda parte, em guarda pra limpar tudo. Aqui não tem empregados de limpeza, e quando tem, são a nível industrial, passam de arrastão sem prestar atenção exatamente no que estão fazendo, munidos de suas máquinas infernais.

Eles acreditam na química, então você costuma encontrar detergentes nos super-mercados marcados como “hospitalar”, ou seja, da pesada. O povo usa estas coisas e depois caem doentes e não sabem porque. É química braba, cada uma pra um canto da casa. Na cozinha, quando lavam os pratos e panelas, o jeito “australiano” é encher uma pia com água e sabão, e lavar tudinho ali mesmo. Como se não bastasse a água não ser bastante pra limpar tudo, também não tem como tirar o sabão. Então eles mergulham ali e botam pra secar, ou secam com o pano-de-prato, com sabão e tudo. No outro dia todos estão comendo restos de detergente, e depois não sabem porque caem doentes com doenças estranhas e únicas. 

Cuba cheia, mas não é o país, e da pia

Nada de água corrente, talvez com medo de desperdiçar água preciosa, pois tanto água quanto energia (de máquina de lavar pratos) custam uma exorbitância. Nada de enxaguar a louça lavada na cuba cheia de solução borbulhante. Vai tudo pra dentro do seu estômago. Agora, imagine que se todo mundo é assim na Austrália, também é assim nos restaurantes, então todo mundo come e bebe detergente todo dia, pois sabe-se lá como eles lavam os pratos. Refrão: “depois não sabem porque estão doentes”…

Esqueci de falar nos orgânicos, aparecendo cada vez mais...
Ontem, um noticiário na TV mostrou um problema que está levando as crianças para o hospital com intoxicação causando tosse e cansaço, provocados pelos aquecedores das escolas públicas daqui de Sydney, que o governo prometeu substituir e não fez nada até agora, levando já mais de 6.500 crianças aos hospitais. Eles disseram que precisam tomar providências mais urgentes porque daqui a pouco os custos hospitalares serão maiores do que as trocas dos tais aquecedores. Dinheiro, custos, sempre a maior preocupação deles, seres humanos vêm depois.

Aquecedores centrais costumam ser movidos a gás encanado vindo da rua, mas os preços são absurdos. Estes aquecedores soltam uma poeira no ar que vão pra seus brônquios e a casa nunca fica limpa. Se você substitui por aquecedores elétricos, mais caro ainda. Se usa lenha, estará poluindo o ambiente com a fumaça que sai pela chaminé, além de causar uma sujeira de fuligem danada na casa, sem falar de que, quando você encomenda e lenha, o caminhão entrega na calçada, e você é quem tem que pegar no pau e botar no fundo da casa. 

Inimigo invisível e lenha (do artista chinês Liu Boli... tem um homem aí, presta atenção)

Turista acha muito bonitinho aquecedor central, e tem gente que se gaba de colocá-lo a 30 graus pra andar de roupa sumária em casa, esnobando o frio. No final de três meses vem a conta, e o sujeito cai pra trás, tem que telefonar para parcelar…

Lareira bonitinha, aconchegante, mas poluente
Este post homenageia os... germes! Isso porque a coisa mais fácil do mundo é você adquirir germes e doenças aqui na Austrália. Eu sei, o clima ajuda, mas o que causa tanta doenca per capita nestas pessoas é mesmo a famosa e prosaica falta de higiene. Basta dizer que o país é recordista em infecção urinária em mulheres e outras pequenas doencinhas daquele lugar quentinho e húmido, o paraíso das bactérias. Crianças crescem assim, viram adolescentes assim, casam assim, e passam pros maridos assim.

Bonitinho mas perigoso, bio-terrorismo dos vírus e bactérias
Como se não bastassem os famosos novos vírus que aparecem não sei de onde, que vem “do ar”, como diz uma amiga minha, e os médicos já não sabem nem mais o que diagnosticar e decretam simplesmente, “você está com virose”, e tome antibiótico.

Já falei aqui também que uma das profissões que mais dão doenças nas pessoas é a profissão de babá de criança. Isso porque as crianças ficam doentes e não são cuidadas, então passam para as babás nas creches, daí uma babá fica doente todo mês. Some-se a isso o batalhão de antibióticos e logo eles não farão mais nenhuma diferença na pessoa. Ela estará pronta pra outra coisa pior. E o que não falta são doenças estranhíssimas. 

Por isso a TV só fala em doenças, fala-se em câncer a todo minuto, em toda parte. Passa-se seriados sobre doentes, pacientes, doutores, médicos, hospitais, equipamentos hospitalares, técnicas avançadas milionárias, enfim, o mercado da saúde aqui não é brincadeira, é bilionário! É insuportável. Claro que mudo de canal imediatamente.

Todo mundo sabe que a indústria farmacêutica á a vilã do momento nos mercados mundiais, faturando mais do que tudo, mas ninguém pode avaliar a dimensão das epidemias se não vive no país a bastante tempo pra somar tudo o que viu, leu e ouviu, e concluir que isso não é normal.

Inimigos Invisíveis

Como se não bastasse você ficar à mercê dos micro organismos funestos doidos pra lhe comer vivo, ainda por cima você vive num ambiente super chique e sofisticado onde... tem veneno em toda parte.

Mas como? Ora, esta semana mesmo meu marido estava viajando quando viu sinalização na estrada dizendo para tomar cuidado e usar só a faixa da esquerda, porque na direita tinha caminhonetes borrifando veneno pra matar ervas daninhas. É assim que as estradas são bordejadas com “grama” verdinha.

Envenenando a natureza na era ecológica
E é assim que eles controlam as danadinhas, pra elas não proliferarem e tomarem conta da Austrália, eles botam veneno em tudo. É veneno nas paredes pra proteger contra traças e cupins (lembrem-se, as casas são de madeira), é veneno no chão, e veneno nas comidas processadas, claro, não são chamados de venenos mas é isso o que a química que adicionam à comida nos supermercados é. E a lista não acaba mais, pra onde você se vira, tem química tóxica. E você no meio destes vapores, respirando eles alegremente, crente de que está vivendo num mundo asseado, sem ervas daninhas e coisa e tal.

Pra tudo o Australiano tem um “jeitinho científico”, uma substanciazinha micarulosa. Mas até pra isso é preciso você fazer um curso (exagero minha gente), porque a gente vem de um país aonde adquirimos outros costumes mais naturais, e tem que aprender a usar cada uma destas substâncias maravilhosas que eles criam, e que todo mundo conhece, menos você. Então quando alguém sabe do seu problema, vem com uma tal fórmula mágica, “porque você não coloca essa coisa e tal?” E você, com a maior cara de tacho e ignorância, exclama “nunca ouvi falar disso”.

Essa é a pior inimiga, a ignorância. Com alguns anos você passa a desenvolver uma destas doenças estranhíssimas que custam pra ser diagnosticadas, e quando são, a coisa é tão rara que logo jogam você num grupo de apoio, com uma pá de gente com o mesmo problema, daí você não se sente só e condenada, sabe que vai pro buraco com mais uma porção de pessoas pelo menos.

Tem o tal do asbesto, conhecido no Brasil como amianto, que aqui agora anda matando muita gente de câncer. Ele era usado em várias partes das casas, e hoje em dia, depois de algumas décadas, estão se quebrando e liberando suas toxinas. As pessoas viveram décadas nestas casas e escritórios, pessoas trabalharam com o material instalando, removendo, remodelando, e agora tá todo mundo com câncer, quer dizer, quem ainda não morreu, processando as empresas que já faliram e não tem mais dinheiro pra pagar.

Telhas de amianto (asbesto) usadas no Brasil
Mas, sinceramente, tem muita gente aqui que fala isso assim, abertamente: “se houvesse algum problema, o governo já tinha tomado providências”. Ah, meu Deus, é o cúmulo da ingenuidade. Mas também, o que se pode esperar de uma pessoa que sempre teve tudo na vida e nunca precisou fazer nada, ou pelo menos, só precisou trabalhar pouco num empreguinho peba? Eles acham que o mundo é perfeito, e tudo é exagero, que está tudo bem, que as doenças são normais, pois afinal, quem não as tem? As pessoas viram “massa” ignóbil em todo canto.

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