domingo, 20 de novembro de 2011

Vida de Cachorro

E lá vou eu todo faceiro, passeando pelas ruas de Sydney puxando a minha dona. 

Não, não sou loiro
Quer dizer, puxando é modo de dizer, porque agora não faço mais isso. Ou quase não faço. Agora ando parte no braço. 

Bem, eu sou loiro, he, he...
 
É que esta cidade tem uma peculiaridade que nenhum visitante turista jamais irá descobrir. Por onde eu ando e tem planta, eu pego pulga. 

Pulgas

Ah, meu Deus, tem sido uma luta pra eu me livrar destas pulgas. Elas vêm e vão. Minha dona me dá banhos e mais banhos, já gastou uma nota preta com remédios, shampoos, pomadas, sprays. O fato é que Sydney é cheia de pulgas. Principalmente nos parques que permitem cachorro. É um problema sério, assim falou o veterinário para os meus donos.

Paraíso para pulgas

Sou eu, depois de uma sessão de cabeleireiro

Parece que finalmente minha dona conseguiu um jeito de me poupar das coceiras. Isso é que é uma dona boa pra cachorro! Estou sem pulgas a algum tempo já. Porém foram meses de coceira, desde que eu cheguei aqui em Sydney.

Que preguiça

Pelo menos num ponto Canberra é melhor do que Sydney: não tem pulga pra cachorro.

Na mesa, feito gente
Quer dizer, lá deve ter também, mas minha vida era muito diferente lá naquela cidade do interior. Aliás, tem sim senhor, porque eu me lembro do cachorro vizinho, coitado, um adotado da RSPCA que recolhe cachorros perdidos e arruma novos lares pra eles. O pobrezinho além de ter pulgas, tinha sido operado para não latir e incomodar os vizinhos. Então seu latido era rouco e fraquinho. Este meu amigo dormia ao relento, sob sol e chuva. Às vezes minha dona via ele passando tão mal com os vizinhos fora, que dava banho nele de mangueira através da cerca, porque ele ficava torrando em sua caminha de lona, não tinha onde se abrigar do sol causticante. Tem gente que judia de cão.

Passeio chique
Em Canberra eu não saia de casa, só de carro (olha que chique). Não passeava, porque não precisava. A casa tinha um quintal bastante grande para mim. Lá eu rodopiava feito uma bala rajada e matava meus donos de rir. Eu ia no quintal, fazia a curva correndo como um carro de corrida, e voltava, passava por baixo das máquinas de ginástica, e voltava pra porta. E ficava repetindo isso várias vezes até resfolegar. Meus donos gostavam tanto que riam a valer.

Minhas corridas

Mesmo dentro de casa, havia um longo corredor entre os quartos de trás e o hall da frente, passando pelas duas salas de visitas e da família. Naquele corredor eu me esbaldava, corria e escorregava pegando coisas atiradas. Eu dava saltos mortais nos sofás.

Aqui em Sydney eu tenho escadarias para subir, e subo e desço em 2 segundos. Subo e desço mais de 40 vezes por dia para ver cada um de meus donos, ou para ficar um pouco sozinho lá em cima.

Cachorro gosta de cavar, então como não me deixavam cavar na terra lá em Canberra, e aqui em Sydney não tem terra na casa, eu cavo e sempre cavei no sofá, no tapete, na colcha da cama. Meus donos acham muito engraçado. E mais engraçado ainda era quando eles tinham uma cama muito baixa, que eu só podia entrar feito um rato agachado. Mesmo assim eu cavava e cavava lá embaixo, matando eles de rir.

Uma coisa que gosto muito de fazer também é abrir meus presentes. Meus donos se divertem muito com a minha luta pra tirar da sacolinha, rasgar o papel, a embalagem, e retirar o brinquedo.


Meus presentes

Adoro fazer meus donos rirem. Eles tem vários motivos pra isso todos os dias.

Eles começaram tentando fazer as obrigações que todo dono de cachorro acha que tem, caminhando comigo nas ruas todos os dias. Mas ficou muito chato. Além de eu parar o tempo inteiro pra cheirar o que não devia, eles se cansaram do mesmo trajeto vazio e sem graça, e decidiram abolir minhas caminhadas.

Passeios primitivos

Encontro com um amigo
Passeio pela vizinhança em Canberra

Passeio no morro dos cangurus
Mas como aqui em Sydney os caminhos são muito mais interessantes, minha dona resolveu restaurar o estatus de caminhação. Porém, de tanto caminhar por todos os lugares, acabei pegando pulgas. Demorou para descobrir como continuar andando sem pegar pulgas. Agora não posso mais caminhar por ruas arborizadas ou com grama na metade da calçada, aqui tem muito disto também, plantas, pois é lá que estão as pulgas dos outros cachorros. Só caminho por ruas largas e com pouca vegetação, e não posso mais fazer pipi nas plantas, tenho que fazer tudo no meio da calçada. Virei menos cachorro por isso, mas prefiro isso do que viver me coçando e tomando remédio.

Passeio em Sydney
Passeio na beira de uma das mil baías de Sydney

Lindo, né? Justo onde eu pego pulgas...
Mas o que eu gosto mesmo é de “passear”. É claro que eu conheço esta palavra, e tantas outras como “good boy” (bom moço), “food” (comida), “comida”, “quer?”. Em casa de gente bilíngue, cachorro bilíngue. 

Passeio em bairro antigo de Sydney

Passeio pela vizinhança em Sydney. Tem planta? Pego pulga.

Não, a foto não está pelo avesso. Os carros andam mesmo pela contra-mão.
Mas quando o passeio dos meus donos é muito grande, eu não posso ir.

Quando eles vão “overseas” (viajam para o exterior), eu tenho que ficar num hotel caríssimo. Não morro de saudades porque tem atividades e outros “colegas” pra conhecer. Outras  pessoas contratam gente para dar comida aos cachorros diariamente e fazer uma caminhadinha. O que meus donos assistiram foi pessoas esquecerem de dar comida por um dia, e o cachorro do vizinho latir o dia inteiro de fome e saudade. E sequer passeavam com o bichinho. Algumas pessoas cobram pra estes serviços, mas nem sempre cumprem. Difícil os donos acompanharem quando estão fora.

No hotel, tiram fotos quando eu estou alegre e brincando, e mandam pra meus donos “overseas” via email, pra mostrarem que estou feliz. Claro que eu não estou tanto assim, mas dá pra aguentar pois eles sempre voltam.

Já viajei pra muitos lugares aqui na Austrália. Já fui pra costa ver o mar, já fui pra parques, e pra cidade, trazer e levar pessoas. Não perco uma saidinha de carro. Adoro o vento na minha cara, amassando meu pelo e quase arrancando minhas orelhas no carro com o vidro aberto.

Na costa, em Maree beach, para ver o mar
Na costa, em Batemans Bay
Tive que aprender a fazer minhas necessidades num jornal extendido na varanda de casa. Antes eu podia fazer no quintal, que minha dona recolhia, mas agora tem que ser nas vistas dela pra recolher imediatamente. Esta é a minha rotina, ir pra varanda fazer pipi e popô. Quando ela sai, não me deixa ir na varanda com medo, então tenho que fazer no jornal dentro de casa, sobre o carpet. E eu acerto na maior parte das vezes. Lá em Canberra, eu às vezes ficava com raiva, e fazia fora do local próprio de propósito. Mas eu levava carão quando fazia isso.

Eu e o amigo urso
Durmo na minha caminha e tenho meus próprios brinquedinhos. Quando alguém chega, eu sempre vou buscar um dos meus brinquedinhos que ganho dos meus donos pra mostrar que ainda tenho eles pra brincar. 

Meu olho azul

Estou com quase 60 anos de idade, se eu fosse gente, quer dizer, não sou mais nenhum jovenzinho (tenho 9 anos de cachorro). Mas ainda tenho tanta energia, e tão boa aparência, que o povo continua me chamando de “puppy” (pronuncia-se “pápi”, como se eu fosse um bebê cachorro) nas ruas. Todo mundo se encanta comigo, tira gracinha. Eu sou dócil, amigável, e tenho uma atração especial, um olho azul e outro castanho. Sou bonitão, branco com rajas castanhas, todo peludo e fofinho.

Eu, com quase 60 anos de idade!
Sou misturado Shith Tzu de pelo longo e escorrido com Jack Russell, que é pelado mas bem ativo, o que me deu cabelo cacheado em profusão e muita atividade. Também sou alérgico e só como comida alergênica comprada em veterinário, com arroz e vegetais. Qualquer outra coisa me faz vomitar pra cachorro. Nada é perfeito.

Quando estou peludo, pareço Papai Noel
Infelizmente aqui em Sydney eu tenho muito mais lugares novos pra passear, mas tem que ser com cuidado redobrado, por causa das pulgas dos outros cães. 

Então, Feliz Natal 2011, antecipado

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