quinta-feira, 21 de julho de 2011

Estranha Austrália

Pois então, viver em outro país nos traz muitas surpresas. Imagine se vivêssemos na Síria, na Índia, na Tailândia ou na Croácia? A maioria das surpresas não é agradável. Nossa tendência é compararmos o tempo inteiro com o que tínhamos no Brasil, mas essa tendência não mudou.

Cá pra nós, alguns brasileiros adoram dizer que estão adaptados e que tudo é melhor lá fora. Ledo engano. Muitos não querem dar o braço a torcer, isso sim.

Variedade

Dentre as coisas boas que encontramos aqui, uma delas era a grande variedade de produtos nos super-mercados. No Brasil, na época em que vivíamos em Brasília, apenas um super-mercado era sofisticado assim. Porém, com o tempo a variedade foi diminuindo e muitos produtos foram sumindo do mapa. Outros, é um carnaval danado.

Queijo

Por exemplo, queijo fatiado é um drama pra se conseguir. Depende da boa vontade do balconista. Depende do super-mercado, da loja. Depende do tipo de máquina de fatiar. Depende de tudo! De tanto eu reclamar, alguns super-mercados resolveram vender já fatiado do lado de fora do balcão de delicatessens. Mas outros continuam dizendo que não fatiam de jeito nenhum, ou cortam fatias grossas ou tronchas. É um inferno. Outras figurinhas ridículas fatiam o queijo e jogam de qualquer jeito no pacote, e o resultado é que ele chega em casa todo espatifado. É uma palhaçada, sinceramente. Tem vez que estou tão “arretada” que largo o pacote em qualquer lugar e que se danem.

Fora do Mercado

Fora do mercado fica o estacionamento, mas não é isso que quero falar. Uma coisa que me deixa fula da vida é que, toda vez que eu acho um produto que me agrada, não dura muito e eles tiram do mercado. Mas é batata, não posso gostar, que pode esperar, vão tirar do mercado. Qualquer dia, quando eu quiser tirar um produto do mercado, vou fingir que gostei pra ver o que acontece. Fiquei pensando que era uma conspiração contra mim, mas acabei descobrindo que os australianos são acostumados em serem passados pra trás sem a menor satisfação. É de um jeito que as TVs comerciais tiram programas do ar e o telespectador fica lá, com cara de tacho, depois de se organizar todinho para assistir. Total falta de respeito e nem sequer dão uma notinha de satisfação.

Porém, a maioria desta imensa variedade de produtos nos super-mercados vem de outros países, principalmente asiáticos. Então, a gente não conhece, e tem medo de experimentar, gastar e não gostar.

Pois bem, muita gente aqui é obrigada a adorar culinária, então eles sabem do que se trata pois lêem nos livros de receita, e sabem como usar os produtos. Mas, como todo mundo sabe, eu odeio cozinha, então, nem pensar em me especializar. Meu marido diz que eu tenho um toque que, tudo o que eu cozinho, fica delicioso e ele gosta. Sorte dele.

Paranóia Açucarada

Que eu me lembre, esta variedade de produtos nos impressionou apenas no começo, mas hoje já não impressiona mais. Acaba que a gente descobre que a grande maioria daquela variedade de coisas tem o mesmo gosto, ou seja, não tem gosto. Porque as coisas vendidas aqui na Austrália não têm gosto. Não tenho a menor idéia porque, mas suspeitamos de várias coisas. Dentre elas, a paranóia das pessoas com relação a açúcar e sal. Por causa disso, as sobremesas e bolos são todos aguados e têm o mesmo gosto, não importa que aparência maravilhosa tenham nas vitrines, os almoços, carnes, peixes, verduras e galinhas não têm sal, e os sucos são azedos, perca suas esperanças.

Se fosse por isso, todos os australianos deveriam ser altamente saudáveis, né? Mas não são. Ao contrário, a maioria é puta-obesa, e a outra parte tem doenças capciosas. Deve ser falta de açúcar e sal! A paranóia é justamente pavor por causa do grande número de doenças, principalmente câncer. Câncer por aqui é como gripe, todo mundo tem, todo mundo já se curou, ou todo mundo já morreu. Então eles pensam que tirando o sal e o açúcar ajuda.

A falta de sal também arrasa com as manteigas e pães. A grande maioria dos pães é doce, e tudo em geral é doce. Até a maionese é doce. Oi, como pode ser doce se não põem açúcar? Ah, não me perguntem. Mas eles têm uma mania de por mel em tudo, e também molho de soja, que é bem salgado. Misturando os dois, fica um gosto sofisticado mas nem salgado, nem doce. Então a maioria das refeições aqui é doce ou azeda. Nada se assemelha ao “sonho” brasileiro! Era pra ter gente muito mais gorda no Brasil, não era não?

Também é comum sobremesas salgadas, misturadas com doce, como bolos de queijo (“cheese cake”). No fim, não adianta se entusiasmar, porque você fatalmente vai se decepcionar.

Então, tem uma lista de coisas que também só funcionam para eles. Para nós, é uma tristeza.

Lista Ordinária

Os bandaids são caros e não prestam, não sustentam nem um minuto. Embaixo d’água então, soltam-se imediatamente.

A manteiga não tem gosto, não tem sal, e não dissolve. É raríssimo encontrar-se manteiga, o que existe mais é margarina ou “creme espalhador” (spread). E dentre eles, o que existe mais é canola, algo que carrega forte suspeita de ser geneticamente engenheirado e a gente evita. A canola tomou conta de tudo, é barata, tem sido feita para substituir todos os outros óleos, mas pelo menos você tem outras opções ainda, como óleo de girassol, de amendoim, e azeite virgem importado da Espanha ou Itália, o melhor. Vocês sabem o problema dos alimentos geneticamente engenheirados, né? Não foram testados o bastante para saber-se se causam câncer, então, na dúvida, melhor não comê-los.

Pimenta

Aliás, gosto aqui é considerado pimenta. Se a comida tem pimenta, então é considerada “com gosto”. Mas bota pimenta nisso. Brasileiro nunca comeu pimenta assim, e nem comida mexicana, nem baiana chegam nem aos pés das asiáticas e indianas. Não sabemos de que é feito o estômago desta gente, porque pimenta em demasia dá úlcera! A muito que eles devem ter perdido o paladar, por isso só acham que tem gosto o que tem pimenta. Frequentemente a gente perde o fôlego porque comeu um prato que era pra ser só “mild” (levemente apimentado) e carregaram na dose.

Pimentinha amada dos estomagos australianos...

Sempre que vamos comprar refeição no shopping, ou pedir um prato num restaurante, temos que perguntar se é apimentado, pedir pra não colocarem pimenta. Dá trabalho porque existem três palavras similares que nem sempre significam a mesma coisa, dependendo da nacionalidade do vendedor ou garçon. “Spicy”, “hot”, ou “ mild" Uma vez uma tailandesa falou assim para nós: os pratos destes “ispáices” são “ispáices”. Ela queria dizer que naqueles “espaços” (“spaces”) os pratos eram “apimentados” (“spicy”). Pior é quando dizem que é “máilde” (“mild”), que significa “só um pouquinho”, mas o “pouquinho” deles é de metralhar avião.

Comidas

Diz-se que a Austrália não tem pratos ou comidas típicas, que tudo o que tem aqui foi trazido pelos asiáticos. Então a Austrália não tem prato típico. E se compararmos com o Brasil, virgem Maria! Quanta diferença!

Diz-se que o prato típico da Austrália é batatas assadas com molho “gravy” (que não é molho de catacumba não – “grave” – é molho de churrasco, caldo de carne ou galinha com farinha de trigo) e carne de carneiro (porque aqui tem muita ovelha mansa!). Diz-se até que o hino nacional não-oficial, a Valsa da Matilda (“Waltz Matilda”) conta a história de um pau-de-arara solteiro que roubou uma ovelha pra… bem, dêem asas à sua imaginação. Até o hino nacional é avacalhado… este tal de humor “Inglês” muitas vezes beira o mau gosto… Isso porque a Austrália tem dois hinos nacionais, o oficial e o não-oficial.

Outro prato que para mim é típico mas não sei se é mesmo é peixe com batatas fritas (onde já se viu comer peixe com batatas fritas somente? Que desprestígio para o peixe!). Mas aqui é só como vendem peixe, com “fritas”. Ah, Brasil… mas parece que a moda pegou no Brasil também.

Uma terceira coisa é uma substância estranhíssima que é o orgulho dos australianos, chamada vegemáite (“Vegemite”), para passar como manteiga, só que tem cor de excremento! Mas que coisa ruim! Tem até em letra de música do Men at Work (Down Under” que quer dizer, lá embaixo, como a Austrália e conhecida pelos britânicos), uma banda australiana muito conhecida no mundo. Ela faz um trocadilho com “mêite” (“mate”) que significa camarada, então a vegemite cor de bosta parece a cara deles.

Vegemite só existe na Austrália

Então o resto inteiro dos pratos é de outro país, mas até as comidas de outras culturas são “adaptadas” ao gosto australiano, ou seja, à falta de gosto.

China

Tudo que se vende aqui é fabricado na China. Das mínimas coisas aos grandes produtos de boutiques. Então vocês achavam que australianos bem-nascidos, educados, com consciência civil, jamais iriam preferir coisas baratas chinesas do que sua própria indústria? Sem chance! É tudo igual, todo mundo só quer as vantagens, e que se danem os empregos domésticos, manda os pobres pra Índia ou pra China, e a indústria australiana fecha portas todo ano.

Tudo é feito na China...

Os ovos e os camarões são de borracha. Não tem como fritar ovos sem que se tornem com uma consistência borrachuda. Que diabo as galinhas comem aqui?

Cremes de leite e milk shakes são ralos. É preciso pedir milk shakes “grossos” (thick) pra obter coisa parecida. Ah, Brasil…

Sorvetes não existem com sabores de frutas, a não ser nosso conhecido morango e são uma exorbitância. É tudo de “vanilla” (creme), e os italianos custam mais do que almoços. Ah, Brasil…

Cebolas são doces mas batatas doces não são.

Frutas

Bananas e mangas são aguadas e caríssimas. Bananas tem cascas grossas. Quando você descasca uma banana, quase não sobra nada, fica aquele negócio fino, branco e torto...

Maçãs são bonitas, vermelhas, brilhantes, mas é porque são cobertas com cera tóxica e têm que ser lavadas com detergente se quer-se comê-las com cascas. Metade delas vem com partes apodrecidas, e a outra metade é ressecada e não suculenta. Quase não sobra nada. E olha que tem muitas marcas, assim como as bananas, tudo rotulada.

Abacaxis são sempre azedos e de cascas grossas. Os abacaxis daqui são mais difíceis de descascar…

Abacates são usados para saladas de verduras. Assim eles ganham um gosto similar ao da manteiga. Mas abacates grandões e verdes como os brasileiros, nem em sonho. Tomar sorvete de abacate, ou vitamina, é coisa de outro planeta. Os abacates aqui são mirrados, cascas escuras, pequenos, murchos, enrugados, parecem… bem, deixa pra lá.

Remédios e Outros Bichos

Não existem emplastros do tipo Sabiá.

O álcool não funciona como o que conhecemos e seu nome pomposo é espírito do metilato (“metilate spirit”)! É muito fraco e deixa grandes manchas no vidro. Só servem para serem bebidos pelos aborígines (diz-se que eles bebem gasolina também).

Xaropes são amargos e horríveis. Dizem que é para as crianças “não viciarem”. Algumas de suas crianças um dia se viciaram em tomar xaropes? Crianças daqui se viciam com tudo, não precisam de xaropes…

Bebês são enrolados dos pés à cabeça, só ficando com a cabeça de fora. Parecem múmias. Vocês gostariam de ver seus bebês parecendo múmias? Dizem que é pare eles não se ferirem. Alguns dos seus bebês se feriram? Para isso eles tem luvinhas no Brasil. Deve se por isso que eles andam tarde aqui, demoram pra saberem que têm braços e pernas. E custam a amadurecer também, mais tarde, reação em cadeia.

Mas a pior coisa que vimos aqui na Austrália foi as mães lamberem as chupetas dos bebês quando caem no chão da rua e devolverem para eles. Isso é uma judiação. Chupetas aqui não tem tampa, é impossível achar uma com tampa pra vender. E nem tem agarrador para roupas. Quando dão a chupeta para a criança, ela atira no chão imediatamente, então mamãezinha carinhosa apanha, passa na boca, e dá à criança de volta, com todo cuidado. E ainda tem umas mães que colocam diretamente na boca da criança, não importando onde elas estejam, no ônibus, no restaurante, na rua, nos infernos. Que mais elas põem nas bocas de suas crianças? Sabe o que é que elas dizem pra justificar? É que assim tanto elas quanto os bebês desenvolvem anti-corpos contra os germes! Mas não é uma pérola? Depois ninguém sabe porque que esse povo tem tanta doença maluca, que ninguém nunca ouviu falar, e todo dia “nascem” doenças novas.

Aproveitando a chance, gostaria também de citar as criancinhas dos pés roxos. Não, não é uma raça aborígine da Nova Zelândia, são os bebês que saem pra passear sem proteção contra o frio, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Devem estar sendo treinados desde cedo para hóquei sobre patins ou alpinismo, tão esportiva que a Austrália é.

Casas

Lavandarias domésticas não existem. As maravilhosas lavandarias brasileiras, aquela área enorme e ensolarada que fica no fundo das casas e apartamentos, nem em sonho existem aqui. Lavandarias são minúsculas, dentro de armários ou banheiros. Isso porque quase ninguém lava roupas. Bem, não é que eles sejam sujos e não lavem as partes, ou joguem as roupas no lixo depois de usadas, são as máquinas de lavar que lavam mesmo. Ninguém estende roupas também por causa das secadoras. Então, janelas, sol ou ar fresco não são necessários. Ninguém, vírgula: em Sydney tem tanta roupa estendida nas varandas dos prédios como nos subúrbios da periferia brasileira. Será que são os sicilianos?

Quartos e banheiros de empregada não existem porque empregadas também não existem. Nem mesmo os ricos tem empregadas. Só os milionários, e olhem lá. Por isso as casas são sempre empoeiradas. Uma vez por ano os donos das casas resolvem limpá-las, e aproveitam para levar para o depósito de lixo tudo o que acumularam durante o ano na garagem, onde já não guardavam mais o carro de tão entulhado. É impressionante o quanto de troços tem nestas garagens desse povo consumista. Estou falando lá de Canberra. A vida em Sydney tem que ser diferente, porque metade das casas não tem garagem e nem todos apartamentos têm “depósito” junto da garagem.

Fechaduras de quartos e banheiros não tem trancas. Alguém, eventualmente, pode colocar, mas em geral elas não existem. Então, a primeira preocupação de um brasileiro (ou principalmente brasileira) ao passar uns dias na Austrália é com a ausência de fechaduras nos banheiros e ver as crianças pegando eles de calças curtas! Ninguém abre portas fechadas, mas essa não é a sensação que brasileiro tem, principalmente em casa que tem criança.

Uma coisa boa é que toda casa tem água quente que é dosada com a fria em duas torneiras ou uma torneira combinada. Nada de chuveiros elétricos cheios dos famosos fios expostos que os estrangeiros têm pavor no Brasil, água quente é a gás encanado, muito mais perigoso, oras. O problema é que frequentemente a água quente demora pra chegar na torneira, e um outro problema é que, se duas pessoas tomam banho quente ao mesmo tempo, ou outra pessoa lava louça na pia da cozinha usando água quente, daí a água se torna fria porque o sistema não comporta tanto uso ao mesmo tempo. Ponto pros chuveiros perigosos brasileiros.

O Que É Pior?

Pior são professoras apanharem das crianças ou as meninas trocarem pezadas nos pátios das escolas. Que tal adolescentes bêbadas na sarjeta de pernas abertas, arreganhadas, nos fins de semana à noite? Ou as crescentes lojas de colar unhas postiças que empestam os shoppings com um cheiro tóxico? E o pior, trazendo sérios problemas para os clientes, como contaminação por falta de esterelizacão, fazendo suas unhas caírem. Mas o pior mesmo são as mães lambedoras de chupetas das crianças quando caem no chão. Quando as chupetas caem no chão, bem entendido, porque as mães e as crianças também caem no chão, mas não se lambem.

Estas são apenas algumas poucas coisas malucas que a gente vê por aqui, mas tem muito mais.

Me aguardem…

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