Casas feitas de palitos de fósforos.
Pois é assim que se constróem casas na Austrália. Uma cultura herdada dos ingleses e norte-americanos. O nosso pedreiro aqui é carpinteiro.
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Paliteiro |
Na realidade tem um pouquinho de tijolo. A casa começa assim: monta-se uma gaiola das loucas feita de madeira, depois sai-se tapando os buracos com um material azul. Deve ser alguma espécie de isolante, e por fim envolve-se a armação com tijolos, mas só por fora. O resto das paredes é feito de gesso. Por isso no cinema de vez em quando alguém dá um soco na parede e o pulso sai do outro lado. Vá fazer isso nas paredes brasileiras.
E o pior é que eles consideram casas de cimento e concreto anti-ecológicas! Meu marido quis saber porque e responderam, você sabe quanta energia é dispendida pra fazer cimento? Virgem, é outra realidade mesmo, outra cultura, outro mundo.
A tal da energia para nós brasileiros não é poluente pois vem dos rios, das hidrelétricas, porque no Brasil tem mais rio do que no resto do mundo todinho amontoado. Além disso, o sistema torna nossa energia muito mais barata, mas muito mesmo. Mas as energias deles vem de carvão, gás ou usinas nucleares, ou seja, absurdamente poluentes. Além de tudo, no Brasil tem muito concreto, mas nos outros países não tem. Enfim, é outra realidade mesmo, não dá nem pra discutir. O Brasil é tão rico...
Quer dizer, não é que eles usem tecnologia “mais moderna” pra suas construções, é que as realidades são diferentes.
Por isso quando tem incêndio, o fogo consome tudo como o fogo consumiria uma caixa de fósforos assim: tchump! Além da Austrália ser campeã em incêndios, ainda por cima tem telhado de vidro, quer dizer, tem casa de madeira. É pedir pra arder nos infernos.
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Caixa de fósforos em chamas |
Então o que tem de casa e apartamento rangindo não está no gibi. É bom pra pegar marido chegando de mansinho no meio da noite, a casa avisa. Quando íamos visitar casas pra alugar ou comprar e o chão rangia sob meus pés, eu dava meia volta e ia embora. Onde já se viu casa ranger? Como se não bastasse os estalidos de noite, como se tivesse alguém dentro de casa, ou mesmo o barulho da água correndo no banheiro do outro lado da casa, que dá pra ouvir na casa inteira porque as paredes são ocas, e os canos passam por dentro dela em alta pressão.
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Pedreiros, digo, carpinteiros, aqui chamados de "builders" (construtores) |
Então, o pedreiro é na realidade carpinteiro. Com isso as casas são frágeis demais. Armações de telhado feitas de madeira, vá lá, ao invés de laje. Bem acabadinhas, as bichinhas, tudo ajustadinho, parece impecável, mas soprou, voou, que nem a casa dos 3 porquinhos. Com isso as casas deviam ser mais baratas, não é não? Não senhor. Paga-se os olhos da cara por um montão de palitos de fósforos unidos com grampos e chiclete. Mas tá certo, nada mais certo do que casas frágeis para os porquinhos australianos anti-higiênicos que chafurdam no lixo obsoleto.
E como se não bastasse, a indústria de construção na Austrália parece ser a pior possível. O que tem de defeitos nas casas novas é inaceitável para os padrães educacionais e arrogantes desse povo. Entretanto o mercado imobiliário é o maior negócio da Austrália de todos os tempos. Ora, se o mercado é tão bom, pra que fazer casas melhores se o povo compra qualquer porcaria? As casas de 4 metros de largura na minha vizinhança vendem no mesmo dia em que são anunciadas.
Já visitei muitas casas novas de conhecidos e também limpei algumas cheias de defeitos e problemas. É vazamento aqui, entupimento ali, torneira de má qualidade se quebrando, piso rachando, rejunte ficando preto, e a lista não acaba mais. Com frequência eles tem que substituir componentes. Recentemente uma amiga, por exemplo, teve que se mudar depois de 3 meses ocupando um apartamento recém-construído, super-chique, em local altamente nobre, porque deu vazamento dois andares acima que desgraçou as alcatifas do apartamento que ela aluga. Então eles arrancaram a alcatifa fora expondo o cimento bruto e mal acabado, a sujeira embaixo do tapete. E assim ela passou uns bons 2 meses, com o apartamento desse jeito.
E olhe que aqui na Austrália tem um lance interessante: você contrata uma empresa pra construir sua casa, e ela lhe dá um menu pra você escolher dentre os vários modelos padrões. Qualquer coisa que você troca no modelo padrão, paga bem caro por isso. Conhecidos nossos acrescentaram uma pia ao toalete e construiram outro banheiro, tudo pago por fora.
Estou cansada de ver prédios de apartamentos em Sydney rachados de dar medo, até o que moramos tem rachaduras em toda parte, como na cozinha, banheiro, sala e até na escada. As janelas modernas são de vidro na maioria das casas e apartamentos de Canberra e Sydney, mas a moldura é tão frágil que se você forçar, ela entorta. Se você furar com uma furadeira, parece uma folha de papel. Super ajustadinhas, com vedações totais, mas assim, desse jeito, precário.
Ah, e é um tal de cair varanda. Cai várias varandas por ano, com pessoas em cima. Eles fazem festas em varandas precárias de madeira, e elas não aguentam o peso, vindo abaixo com todo mundo em cima indo parar no hospital. Não sei como é que o povo insiste em fazer festa em varanda de casa e prédios. Pelo menos as que caem são nas casas, mais perto do chão do que as dos apartamentos altos.
Na casa de um amigo nosso, perto de um millhão de dólares, a varanda é de madeira com ripas afastadas, quer dizer, não adianta se abrigar da chuva embaixo dela. Ela rodeia a casa inteira, um verdadeiro “avarandado” no primeiro andar, mas o parapeito feito de ripas de madeira é preso por vigas de ferro mixurucas. Tão mixurucas que estão cedendo. O diabo é quem se debruça no tal parapeito. Quer dizer, uma varanda de meter medo, melhor não tê-la. Tem que andar com cuidado, pisando em ovos. Quer dizer, eles não ligam, somos nós os medrosos e preocupados.
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Pisando nos ovos |
Serviços de Carregação
Não, não estou me referindo aos táxis nem aos estivadores do porto que carregam coisas e pessoas, estou me referindo à má qualidade dos serviços.Os serviços cada dia vão se deteriorando mais aqui na Austrália. É uma verdadeira loteria você contratar alguém que sabe fazer um serviço impecável. Existe, mas grande parte é de dar medo. Medo de que façam porcaria.
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Encanador |
E a falta de padrão? Meu marido queria ser arquiteto quando era jovem, chegou até a estudar os padrões e medidas arquitetônicas da construção civil na escola técnica, depois disso passou a observar que todas as construções brasileiras obedecem àqueles padrões de largura mínima de corredores, dimensão de degráus, tamanhos de portas, alturas de tetos, o escambau. As normas só não são respeitadas por aqueles arquitetos de fundo de quintal que constróem suas próprias casas, daí eles cometem atentados.
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Canos nos palitos |
E na Austrália? Existe tal coisa chamada padrão ou norma? Parece que não, ou é muito relaxado. É frequente você se deparar com uma pia minúscula, onde você tem que escovar os dentes como no Japão, de joelho e batendo com a cabeça no espelho, e isso em casas imensas. É comum você ter um toalete separado do banheiro sem pia, consequentemente quando você se suja, tem que pegar em duas maçanetas pra lavar as mãos no banheiro contíguo, uma idéia de girico e triste de quem vai depois de você. É comum você nunca saber pra que lado abre uma porta, porque não tem padrão. Dificilmente no Brasil uma porta abre pra fora do cômodo, a não ser se for um armário.
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Pia minúscula na Inglarerra também |
Frequentemente você tem cômodos no interior da casa sem iluminação nem janelas, então as pessoas colocam clarabóias no telhado que ficam muito bonitas e iluminam o ambiente com a luz solar, mas muitas vezes elas se enchem de insetos mortos que não são retirados.
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Luz e mosquiteiro natural |
É comum você mandar fazer uma calçadinha no seu quintal e com o tempo ela afundar parcialmente, lhe dando um tombo.
Você descobre que tudo está torto quando encomenda cortinas ou guarda-roupas embutidos. Logo você vê que as persianas não encaixam direito porque a janela é mais larga em cima do que embaixo, ou as portas corrediças com espelhos imensos só fecham bem de um lado, porque quando trocam de lado, elas estão fora de esquadro. É que na hora de construir, eles adaptaram as portas para as torturas da parede. É uma tortura.
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Espelho demais, não é não? Quarto fica parecendo motel... |
Outra coisa esquisita: você vai andando no shopping e de repente sente uma tontura, pensando que vai cair. É que o chão se move. Não é que ele se mova, mas você não espera que hajam desníveis no meio de um corredor entre uma loja e outra, ou mesmo ladeirinhas. Pois é isso o que acontece dentro dos shoppings, porque eles vão aumentando assim, construindo-se aos pedaços, e muitas vezes aparecem os desníveis e eles não estão nem aí pra nivelá-los, você que cuide do seu labirinto. Que me conste, isso não acontece no Brasil em lugar nenhum, mas aqui até mesmo no meio de um super-mercado, o carrinho sai deslizando, escorregando sozinho e batendo nas prateleiras. Tem fantasmas no super-mercado? Não, é que um lado do corredor é mais baixo do que o outro, e o mercado inteiro é todo desnivelado. Só quem “nota” é o carrinho e seu labirinto. Até a escada rolante é inconstante.
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Você não está com labirintite, é o chão desnivelado mesmo |
E a seara dos mal feitos não tem fim. Que tal um box de chuveiro de um apartamento ou casa novos cuja água não corre para o ralo de jeito nenhum, ficando empossada, obrigando-lhe a tanger a água com um rodo toda vez que acaba o banho, senão fica estagnada e pode até criar mosquito da dengue? Você vai saber que a casa ou o apartamento vai ser assim quando compra na planta? Foi o diabo do pedreiro da sua propriedade que fez um serviço de qualquer jeito, não quer dizer que o complexo inteiro seja do mesmo jeito. Azar o seu. Também existem as torneiras desalinhadas. Duas torneiras numa mesma pia, uma você torce, a outra lhe machuca porque está muito junta da parede. Dá vontade de torcer o pescoço do carpinteiro vulgo pedreiro.
A População do Jardim
E que tal você contratar um paisagista para planejar seu jardim, e ele colocar plantas e árvores que requerem podagem semestral, e daqui a 6 meses ele já vem ali, pronto pra fazer a podagem, você não precisa nem estar em casa, que a conta vem pelo correio. Não senhor, me poupe, quero não, pode desistir. Deixe que eu chamo o senhor, nada de aparecer aqui desse jeito. Mas que desplante!
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Arbustos maiores do que a casa |
Acabou que uma amiga minha virou refém do jardineiro que engolia seu dinheiro para podar suas plantas constantemente. Tão bonitinho, não é? Em uma hora ele poda tudo com suas máquinas possantes e vai embora, às vezes junto com a mulher. E ela achou de recomendar o tal jardineiro boa pinta para mim! Boa pinta uma pintchura! O danado plantou "entas" árvores no quintal, e depois apareceu para podá-las. Levou um fora tão grande que nunca mais apareceu. Em compensação nos deu um abacaxi pra descascar. As árvores cresceram tanto que passaram da casa e entupiram as calhas. Podá-las se tornou impraticável tal a voracidade das plantas endiabradas e a grossura dos troncos.
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Sacos e mais sacos de folhas secas |
Coisa interessante, elas ao invés de perderem as folhas no outono, perdiam no verão. Então enchiam de folhas secas justo quando a temperatura estava quente, um pavio curto pra tocar fogo. O resultado foi um dos maiores programas de índio da minha vida: encher sacos de 1 metro de altura toda semana, com folhas secas, juntar 8 sacos, colocar no porta malas do carro e levar tudinho no depósito de lixo, enfrentando uma fila de carros na poeria, batalhando uma vaguinha pra descarregar o conteúdo dos sacos na montanha de plantas podadas jogadas pelos outros (muito mais do que nós!).
Belo programa de domingos, mas o povo de Canberra gosta, assim eles tem o que fazer! Acabei permitindo meu marido comprar as maquininhas que os homens tanto adoram. Fora o cortador de grama e o podador elétrico, veio este soprador/sugador, um aspirador de folhas que ora tange elas e junta em montinhos, ora suga elas pra dentro do saquinho dele, que tem que ser esvaziado do mesmo jeito. Uma verdadeira pachecada! Era bom que dalí mesmo as folhas fossem incineradas e desaparececem, não era?
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Mala grande, 6 sacos, mais 2 nos assentos traseiros, uma vez por mês |
Enfim, jardim e quintal em Canberra consomem muito tempo. Tem gente que gosta, mas essa gente não sou eu. E é um tal de comprar sementes de grama pra tapar os buracos, plantas ganhas em potes que morrem seja porque levam sol demais, ou sombra demais. O lance de sair rodando na casa pra encher os potinhos com água é um saco. Melhor ter plantas artificiais, elas estão tão perfeitas hoje em dia quem ninguém diz.
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Programa de índio de domingo em Canberra, descarregar folhas no TIP |
E as ervas daninhas? Tomam conta de tudo, e tem umas com espinhos, danadas da vida com a nossa presença, nos enxotando. Os jardineiros colocam plástico no chão das jardineiras e cobrem com o que quisermos. Cobrimos com pedrinhas brancas, mas elas acabaram sumindo, afundando no meio da terra, então recobrimos com “bark” (casca de árvore) picado e pintado de vermelho.
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Galinhas voadoras e chorosas que lhe atacam quando estão procriando |
Os “magpies” (fala-se “megpáis”, enormes pássaros que se parecem com galinhas e grasnam como se fossem bebês chorando) então vinham e cavavam o “bark”, espalhando no passeio da entrada da garagem à procura de minhocas que sobrevivem ao veneno químico, mais trabalho pra mim.
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Descarregando... |
Eu odeio minhocas, que nojo! E pra piorar, quando chovia lá em Canberra, a entrada do carro ficava cheia de lesmas nojentas. Sem falar nos aruás e caracóis gosmentos. Paguei todos os meus pecados, eu, urbana do jeito que sou, de cidade grande. E ainda bem que o racionamento de água foi decretado em Canberra e passamos uns bons quatro anos sem poder mais aguar a grama nem lavar o carro (meu marido adorou). Resultado, ela secou, ficou espinhosa e cheia de buracos e ervas daninhas. Umas plantas morreram e foram arrancadas, e alguns arbustos passaram 8 anos e não cresceram nem um centímetro, uma verdadeira proeza, nem morriam, nem cresciam. Os jardins de Canberra foram secando todos, muita gente trocou a grama por “bark”, serragem ou pedras, mais um pouco e Canberra iria ficar parecendo com Texas, só faltando os cactos.
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Plantas que não cresciam, rosas que espetavam, aruás, minhocas e lesmas gormentas |
E até a profusão de rosas que o dono anterior da casa havia plantado, plantas de girico, me espetavam toda quando eu tinha que cuidar das bichinhas, podando-as, matando-lhes os fungos.
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Bonitas de olhar... |
Eu, espetada e cercada de minhocas gosmentas! Vai ver tem gente que gosta…
E o pior, quando minha maravilhosa “hay fever” (febre do feno) me atacou, eu não podia mais respirar grama cortada e ajudava menos o meu marido a descarregar o cortador de grama e colocar a grama picada nos sacos de lixo bio-degradáveis. Ah, por sinal, seria uma boa idéia os tais sacos bio-degradáveis, porque jogaríamos os restos de plantas com saco e tudo no lixo, se eles não bio-degradassem antes de chegar no depósito de lixo!
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Tentativa de fazer jardinagem... |
Ah, quanta coisa errada nesse país, quanta experiência, ou melhor, quanta inexperiência bancada com o seu dinheiro, experimentando e você pagando, quanto dinheiro jogado fora!
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