terça-feira, 13 de setembro de 2011

Academia de Ginástica

Desde jovens que frequentamos academias de ginásticas no Brasil.

Então, a certa altura do campeonato, resolvemos frequentar aqui também, em Canberra.

Começamos logo nos aborrecendo.

Primeiro, tem academias só para mulheres. Ora, não estamos mais vivendo em tempos medievais, mas o fato é que existem mesmo várias academias só para mulheres. Talvez seja por isso que tem tantas lésbicas, ou seria o contrário?

Obviamente que esta não seria minha academia predileta, até porque meu marido não poderia ir também. Então escolhemos uma mixta.

Pra começar, tivemos que marcar uma reunião com um treinador. Ele fez muitas perguntas e tal, qual o motivo nós não sabemos, porque com o andamento da coisa, aquela palhaçada acabou não servindo de nada.

Aqui na Austrália, acho que o privilégio é dos negócios, e os clientes que se danem. Se o cliente não gosta, vá passear. Eles sobrevivem sem clientes... bem, provavelmente não, devem sobreviver porque os “clientes” daqui são uns bananas e se submetem a tudo.

Pois bem, no Brasil estavámos acostumados a pagar pelo que tínhamos, mensalmente. Podia-se até pagar por aula avulsa. Aqui você tem que pagar por 1 ano, no mínimo. Ou seja, se você não gostar, perdeu o dinheiro e que se exploda. Devolver, jamais. Aliás, tem um esquema de devolução, mas é tão complicado que é melhor desistir. Outro detalhe interessante: a academia só fica aberta para aulas em grupo entre 7 e 10 da manhã e depois das 5 da tarde até 8 da noite. No resto do dia só funciona as máquinas que estão lá e que você faz individualmente.

Isto quer dizer que neste intervalo, dondocas não podem fazer aulas em grupo, justo o período em que as crianças estão na escola e você está livre. Vai ver aqui não tem dondocas, ou as que tem, podem pagar “personal trainner” em casa.

Quando começamos, tivemos direito a 4 sessões com acompanhamento do treinador pelo que pagamos “up front” (adiantado). O treinador, muito simpático, tirou medidas, pressão, preparou um esquema de exercícios para cada um de nós, explicou os exercícios um por um, as máquinas, como funcionavam, porque a maioria delas nós não conhecíamos. Talvez tenhamos ficado muito tempo sem ir a academias porque as máquinas evoluiram e não sabíamos mais como usá-las.

Equipamento
Nosso “plano” dava direito a duas sessões por semana. Mas depois da quarta sessão, o treinador sumiu. Para tê-lo de volta, teríamos que pagar mais, à parte. Ora, nunca precisamos de treinador no Brasil. Minto. Eles estavam sempre à nossa volta, prontos para responderem perguntas e ajudarem nos treinamentos. Aqui não, eles só aparecem se você paga! Se não paga, que se exploda e se entorte todinho, e fique aleijado.

Isso porque, obviamente, o que tem de gente que não paga a mais, explica o número de pessoas fazendo exercícios errados e adquirindo más posturas. Nós víamos aquilo, nos entreolhávamos, e ficavamos só observando que ninguém prestava atenção a ninguém.

Havia uns treinadores zanzando pela enorme academia. A maioria jovem, algumas mulheres, umas machonas, outras estilo “bitch” (putinhas), daquelas esganiçadas que grudam umas nas outras no qui-qui-qui, e no cá-cá-cá, um nojo. Alguns rapazes treinadores também entravam nessa, principalmente quando a “cliente” era uma garota bonitinha. Eles encostavam e não saiam mais, o resto da cambada se acabando de fazer tudo errado, e ele lá, folgado, no bem-bom, namorando publicamente, ganhando pra arranjar o que fazer no fim de semana.

Alguns clientes pagavam para ter exclusividade. Isso saía bem caro. Havia até alguns que traziam seus “personal trainers” a tira-colo. O cara, fortão, ficava agarrado no cliente o tempo inteiro, daqui pra lá, de lá pra cá, explicando tudo, esticando as perninhas deles, colocando almofadinhas nos bumbuns deles, e por aí vai.

Enquanto no Brasil, na nossa época, só havia jovens bonitos, sarados e bronzeados fazendo ginástica, e até os coroas pareciam jovens de tão malhados e plastificados na cara, aqui a maioria é de velhos alquebrados. Menos da metade é jovem, a maioria são pessoas “normais”, a maioria chega sozinha, faz ginástica sozinha e sai sozinha. Poucas tem amizades ali, a maioria faz suas obrigações e se manda.

Piscina coberta
Dentre os clientes que partilhavam do nosso horário, havia mulheres que queriam perder peso, pessoas com deficiências, talvez se recuperando de acidentes, fazendo fisioterapia mais avançada. Havia grupos de dois rapazes, de duas moças, cada um na sua. Senhores também sozinhos. E algumas poucas figuras a fim de alguma coisa a mais, como um halterofilista da idade do meu marido que também gostou da escolha do meu marido para companhia feminina. Mas não sei porque, o carinha sempre dava um jeito de ficar sob o meu olhar, exibindo os músculos, muito bem colocados para sua idade, por sinal.

E não é que eu encontrava ele no ônibus também, de vez em quando? E eu acho que o cara era milico, tinha todo o porte de milico, cabelo de milico. Mas eu prefiro meu gordinho civil...

A Academia

Escolhemos uma academia no bairro mais próximo. Suas instalações por fora não dizem nada, mas por dentro, vamos ser justos, era bem montada. Dois andares. No andar de baixo, quadras cobertas de esportes tipo squash, futebol de salão e uma piscina semi olímpica coberta, e mais outra pra crianças. Esta piscina era climatizada, e dava para um imenso parque que rodeiava a academia, com imensas portas basculantes de vidro em meio a uma enorme área envidraçada, parecendo que os banhistas estavam ao ar livre.

Ao redor da piscina, várias mesinhas e cadeiras. No meio da piscina, a cadeirinha alta do salva-vidas. Podíamos assistir a tudo o que rolava na piscina lá de cima, através de mais vidraças enormes que rodeavam toda a academia que ficava no primeiro andar, com vista privilegiada para o parque e para a piscina. 

Ora, para mim piscina estava fora de cogitação, mesmo eu tendo sido apaixonada por piscina como fui. Porque? Já falei em outro post que nada de exame médico pra frequentar a piscina, então eu mesmo não me arriscaria. Já vi bandaid e outras coisas mais nas piscinas públicas de Canberra, o bastante para eu perder o tesão por elas e ter nojo.

No primeiro andar ficava a academia e algumas salas para as aulas em grupo as quais falei acima que tinha horário para funcionar e também as máquinas muito sofisticadas e caríssimas, cheias de eletrônica, muitas vezes sem funcionar (!).

De frente para vários lotes de máquinas havia 3 grandes TVs na parede transmitindo programas diferentes, mas sem som. O som era música, por sinal bem alta, e frequentemente insuportável. Para ouvir as TVs, só sintonizando elas em rádios de “pulso”.

Faltava o que olhar porque as academias daqui não tem aquela fartura de gente bonita que desfila no Brasil e nos enche a vista, além do que não é proibido olhar pra ninguém. Aqui nem se pode olhar, que as figuras são esquisitas e não devem gostar. Todo mundo se ignora, ou faz que se ignora. De vez em quando a gente pega alguém nos observando pela variedade de espelhos uns contra os outros, de um jeito que você vê uma pessoa num deles, e a pessoa está a dezenas de metros, de costas pra você e até fora do ângulo de visão. Espelhozinhos sabidos aqueles!

Espelhos marotos
Frequentamos, ou melhor, aguentamos 1 ano daquilo, sempre com problemas pra estacionar, tendo que escolher horários em que as pessoas já estavam indo embora, etc. Depois de 6 meses que deixamos a academia resolvemos comprar alguns aparelhos e colocá-los em casa, que sairia mais barato, e assim fizemos. Os aparelhos dançaram quando mudamos para Sydney, pois tivemos que vendê-los por falta de espaço.

Mas em Sydney, é um prazer caminhar, não precisamos muito de academia e se precisássesmos, o esquema seria o mesmo, pelo visto é válido para toda Austrália, andei checando...

Caminhadas 

Muita gente caminha em Canberra. Aliás, a Austrália inteira é feita praticamente para os caminhadores. Tem caminhos em toda parte. É muito cuidado e carinho com esta população, não é mesmo? Eles constroem tudo mas não se esquecem de colocar lá os passeios para os caminhantes amantes da natureza. E para bicicletas também, hoje em dia.

O problema é que em Canberra, caminhar era programa de índio e nós não gostávamos de caminhar lá. Bem que tentamos. Havia vários motivos para não gostarmos. Primeiro, tudo é muito vazio. Caminha-se no meio do “bush” (mato) ou do nada, não se vê nada, não se cruza com ninguém, é tudo muito “boring” (entediante). Mesmo caminhando com meu marido e consequentemente tendo muitas coisas para conversar e nos encher de gases que dão a famosa “dor de viado”, quando fazíamos a mesma rota 3 vezes, virava enfadonho.

O melhor seria caminhar na frente das casas, para ver como são, curtir seus jardins belos e arrumados, e ainda sacar como é que o povo vive, aqui e acolá. Mas isso não é sempre possível, porque nem todas as ruas tem calçadas.

Okay, fizemos essa caminhada uma vez, duas vezes, três vezes e pronto, ficaram cansativas. Ora, nada acontece. Nem mesmo os cangurus no alto da montanha nos causavam mais excitação. Só da primeira vez. Quando casualmente encontrávamos um canguru no meio do caminho, daí ficava mais excitante, mas depois disso nunca mais. Muito difícil dar de cara com um canguru. Cangurus só gostam de frio. No calor eles somem.

Outro detalhe é que só podíamos caminhar no fim da tarde, porque antes disso o sol era escaldante e nos cozinhava. No fim da tarde, todos os gatos são pardos, e a gente daqui a pouco não enxerga mais nada na famosa escuridão de Canberra, onde as lâmpadas dos postes só iluminam eles mesmos.

As pessoas em Canberra estão acostumadas à solidão. Elas caminham sozinhas, ou andam de bicicleta sozinhas, no meio da vastidão de parques e arbustos, no meio do nada. No máximo saem dois, mas mal conversam. Eles fazem tudo juntos mas mal trocam palavras. Até andar com o cachorro também é uma atividade solitária. É tudo muito solitário. Algumas pessoas levavam as crianças em suas bicicletinhas, mas isso é raro.

Quando eu caminhava ao redor do lago da região em que morávamos, Tuggeranong, eram grandes distâncias sem nada também. Casas ao longe, lago sem graça, sem uso, sem barcos nem pescadores, muito raros. Todos os caminhos sempre calçadinhos, algumas trilhas por entre as árvores, bucólicas, mas solitárias. Eu costumava andar com uma amiga, e então podíamos conversar. Mas a gente se torna muito enfadada com as mesmas caminhadas de sempre, com pouco pra se ver, pra se descobrir. Muita gente deve achar isso o paraíso, mas para nós é a morte.

Na primavera brotam as flores, as plantas ficam lindas, cheias de cores, se bem que bastante efêmeras, durando 4 semanas mais ou menos, apenas. Mas até isso é enfadonho. E o pior, elas dão uma alergia terrível, a tal da “hay fever” (que se pronuncia “reifíver”, a febre do feno – ou da palha). Acabei tendo, e meus filhos também, mas meu marido ainda não teve, sorte dele. Fica-se como se estivéssmos gripados, olhos vermelhos, coçando, nariz fechado, espirra-se muito, dor-de-cabeca e algumas pessoas chegam a ter crise de asma. A gente se sente prostrada e não tem remédio pra isso, só paliativos e tratamentos naturais. Tudo graças ao pólem das maravilhosas flores da primavera soprados pelo vento desta terra seca! Uma tortura.

A "febre" do feno nos deixa assim
A festa mais importante de Canberra é justamente Floriade, onde eles plantam principalmente tulipas num enorme jardim cheio de desenhos feitos com flores, cujo passeio ainda é de graça e atrai turistas da Austrália inteira. No início nós íamos todo ano, mas depois que desenvolvemos a tal “hay fever”, não deu mais. Além do que todo ano é a mesma coisa, com pouquíssima variação ou novidades. Cansa, como tudo naquela cidade.

Em Sydney não temos “hay fever”, graças a Deus, todo mundo se curou.

As caminhadas aqui em Sydney são bem diferentes. Sempre tem gente pra se ver, é uma cidade viva. As ruas tem calçadas como uma cidade normal, com uma grande profusão de árvores e vegetação, e o traçado é “normal”, a gente não se perde e não é difícil orientar-se, coisa muito complicada em Canberra onde as ruas “planejadas” faziam curvas e frequentemente acabavam no mesmo lugar. Meu cachorro agora adora passear.

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