Não sou de ir a shows, mas os que vemos na TV são de boa qualidade. Os poucos que vimos promovidos pelas escolas primárias e secundárias, também são geralmente muito bons.
Até alguns anos atrás a TV mostrava um grande show feito pelos estudantes que estavam se graduando em artes performáticas a nível secundário chamados “School Spectacular” (“Espetáculo Escolar”) desde 1984. Estes shows tinham qualidade muito boa, mas o que me intrigava por demais era o nível de compromisso que estas “crianças” tinham com o que eu considerava um “simples espetáculo” de televisão. Não sei se ainda é mostrado na TV porém o show continua sendo montado no “Sydney Entertainment Centre” (Centro de Entretenimento de Sydney).
Cartaz do Show dos Estudantes de Artes Performáticas em 2008 |
Show Anual dos Estudantes |
Havemos de convir que estes estudantes, que são centenas em cada show anual, são escolhidos entre os melhores de todas as escolas que ensinam “artes”. O interessante é que os estudantes que escolhem fazer “artes”, geralmente são aqueles que não querem nada com a vida. “Artes” é a matéria escolhida por falta de outra, o “default” (escolha por
omissão).
Há de se convir também que o trabalho final fica muito bom porque quem monta, coreografa e dirige, com certeza são pessoas experts, que sabem usar o talento de cada um pra montar um show com várias partes, desde peças musicais, ballets, até música com cantores e instrumentistas, todos estudantes. Se um estudante mostra-se especialista em cantar, provavelmente lidera uma cena musical em que ele ou ela é o astro. Nisso entra até cantor de ópera “mirim”. Um instrumentista fora de série recebe uma peça só dele, com outros acompanhando. Um estudante que já havia formado uma banda, tem chance de mostrar seu trabalho, cercado de bailarinos. E para a maioria, ela é jogada nos figurantes, dançando, fazendo número, cantando em coral, correndo de um lado pra outro, estas coisas.
Aspirantes à fama |
A um tempo atrás, a TV inventou alguns programas ao vivo, melhores do que os surrados e polêmicos ‘big brothers”. Estes programas, por exemplo, elegem o “Australian Idol” (ídolo australiano) do ano, e tem versões norte-americana e inglesa também. Este programa lançou muitos artistas de alta qualidade ao longo dos anos, mas tambem provocou polêmicas demais, quando os jurados passaram a agir como que “comprados”, devido aos seus votos equivocados.
Outras vezes as fãs elegiam como primeiro lugar um cara bonitão, mas de talento “normal”, o que o garantia apenas o primeiro disco de sucesso, e ainda outras vezes, mesmo os que perdiam ou tiravam em segundo ou terceiro lugares, conseguiam sucesso no mercado e produziam vários CDs e shows. Mas o número de gente boa recusada estava sendo maior do que o de “porcarias”, então o programa virou uma bandalheira. Chegávamos a ver o comportamento de certos “jurados” tendo que emitir opinião claramente contrária ao que pensavam, provavelmente por alguma imposição da diretoria da TV ou coisa do tipo. Uma tristeza. Diante de tantos problemas e reclamações, acabaram com este programa poucos anos atrás, assim como o Big Brother que estava virando uma verdadeira baixaria. Agora eles tem o Caça Talentos (“Australia's Got Talent”), que pode ser um cantor, um dançarino, um mágico, um músico, etc.
No palco enfrentando os monstros, nem todo mundo aguenta |
Hoje em dia os programas proliferaram incluindo concursos de cozinheiros, de arrumar noivos e noivas, de trocar de esposas, de babás de crianças endiabradas, de domar cachorros mal-comportados, sem falar nos eternos programas sobre modificações em casas ou construções arquitetônicas. Os programas “realidade TV” estão em toda parte.
Um dos melhores que passaram na TV SBS do governo foi sobre “asilo seekers” (pessoas procurando asilo), ou “refugees” (refugiados), chamado “Go Back To Where You Came From” (“Volte pra Onde Você Veio”). Elegeram australianos comuns para viverem como refugiados em várias partes do mundo a fim de mudar a visão da sociedade sobre este problema crescente que assola todos os países do mundo atualmente.
Entre eles haviam racistas convictos, que no final acabaram por mudar de idéia, incluindo uma jovem “bitch” que acabou descobrindo que tinha coração e que tinha sido muito “bitch” realmente, uma grande evolução. O programa foi engenheirado e guiado por um ativista na área de refugiados, e o grupo chegou a visitar Palestina, Iraque, Malásia, Liverpool (bairro de Sydney que concentra imigrantes africanos) e alguns países da África, onde encontraram os parentes dos que conseguiram imigrar legalmente para a Austrália e hoje vivem bem.
Os contestantes em frente a um meio de como refugiados chegam na Austrália, barcos |
Frequentemente há mais shows em outras épocas do ano, quando promovem queima de fogos para concentrar as pessoas no centro das cidades ou “towns”, a fim de comemorar-se alguma coisa.
Pra quem gosta de shows, Sydney é uma boa cidade pra se morar, o que já não é o caso da pobre Canberra.
Eu comecei este post com a intenção de salientar o quanto a juventude australiana é frívola e valoriza a vida de celebridades, almejando entrar para o pequeno círculo dos artistas bem pagos. É um número assustador de estudantes tentando de tudo para se tornarem celebridades, uma verdadeira calamidade. Falei que são os piores alunos que procuram “artes” porque, não sabendo fazer nada e nem sendo bons em nada, eles tentam qualquer macaquice pra ver se dão certo.
Verdade que, no meio de tanta ignomínia e perda de tempo, tem gente de talento verdadeiro, um talento incrível e fora do comum. A Austrália contribui com muitos destes talentos para o mundo dos espetáculos mundiais de música e de cinema, como os Bee Gees assim como o filme “The Matrix” foi filmado em Sydney.
Cultura Polêmica
Então, como um exemplo das injustiças de que falei, entre 5 finalistas, Tarisai Vushe foi arrasada pelos jurados do programa Australian Idol de 2006 quando na apresentação anterior ela tinha sido coroada de um sucesso extraordinário. Nós, macacos velhos, achamos que ela foi fritada por ser de outra cultura, outra raça, e por ser muito superior aos outros. “Inveja mata”. Além disso parece que ela tem pavio curto também. Pesquisando na internet, acabei descobrindo que ela foi punida por sua religião e porque ela mantinha uma atitude discreta de humildade no palco.
O que eles esperavam? Ela é realmente estouvada, mas no palco mantinha a linha. Eles queriam que ela mostrasse sua “attitude” (que é como se fala quando alguém tem personalidade, diz-se que tem “atitude”). Sabe o que eles fizeram? Chamaram ela de “fake” (no caso, de mostrar falsa modéstia). Eles queriam briga. Acabaram enfurecendo ela e cortando sua chance de subir ao pódium como vencedora.
Mas a africana Tarisai voltou! Seu web site é fabuloso e sua voz é páreo para Withney Houston e Beyonce. Como alguns outros artistas que falharam nestes programas Australian Idol, ela sobreviveu e tornou-se uma artista de sucesso.
Veja algumas das apresentações da Tarisai no Australian Idol nestes vídeos:
Veja nos seguintes links, o web site oficial da Tarisai, a história do programa Australian Idol na Wikipedia, o site do School Spectacular, do Centro de Entretenimento de Sydney, e da série “Volte pra Onde Você Veio” na TV SBS, infelizmente tudo em Inglês:
http://www.tarisaionline.com/http://en.wikipedia.org/wiki/Australian_Idol
http://www.schoolsspectacular.com.au/2009/index.php?page=abouthttp/
http://www.sydentcent.com.au/
http://www.sbs.com.au/shows/goback?cid=23225