Esta semana, minha filha de
20 anos estava na parada esperando o ônibus de volta para casa em Sydney, vinda do trabalho quando,
de repente, sem ter nem pra quê, um senhor de no mínimo seus
70 anos, muito bem vestido, começa a mexer no telefone celular
dele e depois vira para mostrar a ela uma foto, apontando com o
dedo para ela ver bem.
Oh, ela ficou surpresa. Era
a foto de um... um pênis! Não que ela não sabia o que era aquilo, mas
a surpresa do velho atrevido lhe deixou sem palavras. Quando contei a ocorrência ao pai dela, ele
saiu-se com várias sugestões de reações que ela deveria ter tomado:
- Dar um berro, “ai meu Deus”; o “senhor distinto” haveria de ficar no mínimo embaraçado pois não seria nem preciso dizer porque para todo mundo estranhar e notá-lo. Minha filha ainda parece uma adolescente e ele passaria por pedófilo no ato.
- Perguntar, “você gosta disso”? De novo ele ficaria embaraçado, mas podia entabular conversa dali em diante, perguntando se ela gostava também, com cara-de-pau.
- Cutucar o vizinho e mostrar o celular do velho; se ele tivesse mudado de foto rapidamente, dizia o que ele tinha mostrado pra ela.
- Puxasse o próprio telefone celular e tirasse uma foto dele. Queria ver se ele ia reclamar que estava sendo fotografado. Por acaso a sua postura de bem vestido era para dizer que um homem de sua idade e dignidade jamais faria tal coisa? Pois então que mostrasse o conteúdo do celular à polícia sem medo.
- Puxasse o celular, ligasse pra mim e me contasse a cena. Ele até poderia ter ficado com medo que a ligação fosse pra polícia. Garanto que eu daria muitas idéias pra minha filha reagir, já que ela costuma não ter reação nenhuma a não ser “ficar embaraçada”, reação esta tipicamente australiana.
- Meu marido nem citou qual seria a reação de uma brasileira: “seu velho safado, não se enxerga não? Está pensando o quê, que eu sou sua filha ou sua mãe? Porque você não mostra o seu pinto verdadeiro pra todo mundo? Pelo menos é real. Ah, não fica mais assim? Bem feito.”
O pavor da australiana |
A diferença cultural, que é
o título deste post, refere-se ao “aftermath” (pós-tempestade), quando ela
resolveu escrever sobre o ocorrido no Facebook e ver qual seria a reação das
pessoas.
Tudo o que ela conseguiu
foram gozações, como se não fosse absolutamente nada demais e, ao contrário,
fosse altamente engraçado. Estas foram as reações dos australianos “amigos de
Facebook” dela.
O único amigo a ter uma reação
diferente foi um... latino americano real, colega de trabalho! Ponto para nós
latinos de novo. A reação dele foi dizer que ela deveria ir pra casa mais cedo
que aqueles pontos de ônibus não eram muito seguros ao cair da noite, mostrando
real preocupação com ela. Ele também foi o único a dizer que ia chorar quando
ela deixasse o trabalho (ela iniciará universidade em alguns dias).
Esta seria pelo menos a reação
de qualquer brasileiro ou latino. Será que eu estou sendo clara o bastante
quando saliento estas diferenças culturais, ou só eu é quem dei na minha mãe?
Acharam pouco? Pois bem, eu
tenho outra.
Na Ginástica
Lá estava eu na esteira,
deixando meu “cooper” feito na academia de ginástica toda faceira, quando todo
mundo vai embora e praticamente fico sozinha no final do expediente. Vem então
uma das atendentes que é grega, conversar comigo, porque ela gosta muito de mim
e sabe que pode não só conversar como também meter o pau nos australianos,
nosso esporte predileto, pelo visto.
Não é o que nós somos... |
Ela falou tanto que eu nem
conseguia falar, do jeito que gosto de falar, limitando-me a dizer, “é, pois é,
mas não é mesmo?”.
Eu já havia falado pra ela
que o som da academia é muito bom, que toca músicas muito legais, e ela havia
notado que eu, vez por outra, estava “dançando” as músicas, mostrando
claramente que gostava delas com minha “linguagem corporal”.
Pois bem, eu também havia
falado pra ela que a grande maioria das pessoas, não só as jovens quanto as
velhas corocas também, mal entrava na academia e já encaixava seu próprio fone
de ouvido e então praticamente se ausentava do ambiente completamente, jamais
sequer trocando um olhar com as outras, muito menos alguma palavra. Caladas
entravam, caladas malhavam, caladas saiam.
Na calada da academia... |
Pois bem, esta atendente
veio me dizer que os australianos são todos assim, eles falam em felicidade o
tempo todo, mas não sabem ser felizes, não sabem como fazer. É um tal de “happy”
pra cá, “happy” pra lá, você está “happy”? Então é só o que importa, estar “happy”,
e todos respondem em uníssono, sim, estamos “happy”!
Quem houve tanto “happy”
pra todo lado o tempo inteiro fica convencido de que o objetivo do australiano
na Austrália é tornar todo mundo feliz. Ledo engano, santa inocência! Não sabem
o quanto distante da realidade é este “happy” deles.
Escolha seu pitoco: felicidade programada |
Ah, não se esqueçam que nós,
latinos, temos muito a ver com os gregos. Eles se parecem muito conosco no
estilo de encarar a vida (incluindo os homens sendo muito namoradeiros).
Já falei aqui na senhora
que conversou muito comigo na ginástica, muito animada, mas quando a chamei pra
tomar um cafezinho na minha casa, ela sumiu. Ela havia passado a fazer ginástica
em outro horário. Pois bem, ela voltou ao meu horário, e quando voltou, começou
a fazer amizade de novo, como se não me conhecesse. Mal de Alzemheimer?
Porém, agora eu não quero
mais e pronto. Faço beicinho, viro a cara pra lá, e só respondo com monossílabos.
Ela agora vai dançar pra me conseguir de novo, não sou uma mulher fácil.
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