Para quem não sabe, rata não é o feminino de rato em Português, rata quer dizer cometer uma gafe.
Para os padrões brasileiros de educação, os australianos vivem cometendo ratas (eu não falei “comendo ratas” minha gente, eu falei com-me-ten-do...).
Gafe-ilde, a rata australiana |
Uma amiga nossa australiana cozinha muito bem, e meu marido adorava seus quitutes quando ela trazia para o trabalho no dia em que todos contribuiam com alguma coisa numa reunião festiva semanal. Ela é uma das raras excessões, porque quem cozinha aqui na Austrália são os homens!
Então meu marido me trazia algumas amostras de seus quitutes que eu adorava, e ele então sugeriu a ela encomendar alguns bolos e pagar por isso. Ela aceitou, disse que gostava de cozinhar, já fazia para algumas pessoas, e passou a fazer bolos para nós de vez em quando. Para nós era mais barato do que comprar numa delicatessen além de que tinha gosto, ao contrário dos bolos vendidos nas delicatessen.
Isso durou muito pouco. Ao final de alguns meses, ela começou a farrapar e na última semana, a confusão foi tão grande que desistimos de pedir mais. Foi o final da história.
Rata boleira |
Seria tudo normal se esta pessoa tivesse chegado pra nós e dito que não queria mais fazer os quitutes porque não tinha tempo, porque as crianças estavam dando trabalho, porque a casa para onde tinha mudado era grande demais e requeria muito trabalho extra, ou por qualquer outro motivo, não precisava nem especificar, que não seria nada demais e continuaria tudo numa boa.
Mas, não, ela agiu como as australianas, ou seja, estragou tudo e fez uma meladeira final. O que ela fez foi causar problemas para apanharmos o último bolo, os quais ela estava acostumada a levar para ser entregue no trabalho. Desta vez ela marcou um encontro e depois disse que não podia ir. Então pediu para irmos lá na casa dela. Para isso tivemos que estudar o mapa e acertar o local a certa hora da noite, tudo escuro, um breu como é Canberra, vocês sabem que já falei, e a gente não consegue enxergar os números das casas de jeito nenhum.
O pedido era um bolo espetacular Floresta Negra de chocolate todo especial, mas o que ela entregou foi um bolo decadente, sem gosto e sem atrativos, não exatamente o que conhecíamos por Floresta Negra. Parecia um bolo feito de carregação, no chute, na pressa, para entregar de qualquer jeito. Enfim, não gostamos nem do bolo que seria para o aniversário do meu marido e ela sabia disso, e por esse mesmo motivo ela devia ter era caprichado muito, e também não gostamos das dificuldades que ela colocou para esta bendita entrega, além de ter cobrado um preço absurdo.
Bolo floresta negra faz de conta |
O resultado foi que esta pessoa ainda trabalha com o meu marido. Porém a relação festiva que ele tinha com ela morreu. Ela agora é uma estranha e sem graça. Não obtém mais a dedicação que meu marido lhe dava no apoio às suas tarefas, não existe mais o engajamento, o “encanto” foi quebrado. Ou seja, as pessoas daqui, por vergonha de enfrentarem os fatos, acabam estragando tudo. Enfim, elas não sabem o que é amizade, e acabam tudo assim, facilmente, por falta de trato e educação.
Rata Elizete Segunda
Um amigo meu hospedou-se na casa de amigos australianos aceitando uma oferta do dono da casa que dispunha de um quarto separado no andar de baixo, o qual possuia banheiro e sala de estar como num apartamentozinho construido para a vovó, todo mobiliado. Combinaram uma ajuda financeira nas despesas da casa.
Criação de ratas (autor desconhecido) |
Ao completar 6 meses por lá, ele começou a notar que a dona da casa parecia arredia e meio nervosinha, afetada. Ele começou a achar que ela não estava mais satisfeita de tê-lo em casa, e deu umas dicas pra ver se ela confirmava, mas ela não confirmou, mas também não disdisse. Enfim, como com o marido parecia tudo normal, ele continuou. O plano era procurar uma acomodação definitiva perto do fim do ano, mas ele foi deixando passar porque não via motivo para mudar-se. O convívio com a família parecia normal.
Depois destes 6 meses esta senhora começou a falar sobre os motivos dele não procurar outra acomodação. Ele disse que não sabia como ainda, então ela disse que tinha anúncios lá no trabalho dela. Ele ficou sem saber como seria, se devia se mudar logo ou não, mas ela também não disse nem sim nem não. Ao contrário, jogou a decisão para o marido. Pelo marido, tudo estava sempre bem.
Ela chegou ao ponto de jogar na mesa um jornal de classificados onde haviam alguns anúncios de acomodação para alugar. Nosso amigo achou interessante a ajuda, mas jamais imaginou que aquilo queria dizer que ele devia procurar já, porque ela queria ver ele pelas costas. Ela não disse nada disso, não sentou com ele e explicou que gostaria que ele tomasse as rédeas da vida dele, que já era um tempo considerável na casa dela e tal, que todos entenderiam. Não, ela preferiu dar indiretas esperando que nosso amigo entendesse. Não ser claro causa as pessoas entenderem se quiserem, mas como nada claro não pode ser assumido como decisão, no fim vira tudo uma confusão só.
O fato é que esta mulher não suportava mais a presença da pessoa na casa dela, mesmo sendo quase tudo tão recluso, andares diferentes e tal. Então um belo dia, enquanto ele estava viajando no fim de semana, ele recebe um email dizendo que não devia voltar pra casa porque estavam todos doentes.
Ora, se estavam doentes, ai é que precisavam de alguém para ajudar. Não, não precisavam de ninguém, e à oferta de ajudar levou um fora do tamanho do mundo ao ser respondido que ela queria curtir a doença sozinha, na própria casa dela, dizendo aí que a casa não era dele, e ainda que se ele fosse, aumentaria mais o nível de estresse deles, uma coisa muito feia para os padrões brasileiros onde as pessoas dizem que “minha casa e tua casa”. Não, mesmo pagando, a casa não era do cara. Que ele arrumasse alternativa, e ao responder que não havia alternativa, recebeu de volta outro fora dizendo que sempre tem hotéis de comer-e-dormir por aí.
Rarta registrada Made in Australia |
Ele ficou chocado, teve que procurar hotel na última hora no trabalho pela internet, deu a breca, não conseguiu trabalhar naquele dia, meteu os chefes e gerentes na confusão, fez o diretor procurar os tais hotéis com ele, tudo caríssimo e sem propósito, foi um rolo danado. Ficou sem roupa, sem coisas para mudar-se pois àquelas alturas não queria e não podia mais nem pôr os pés lá pra pegar seus pertences, com medo de ser contaminado mortalmente. Não sabia que raios de doença era aquela, começou a imaginar que seria contagioso, e que eles queriam protegê-lo do pior, ah, coitadinho, querendo desculpar as cobras.
No final ele se arrumou com outros amigos temporariamente no mesmo dia e teve que procurar uma acomodação às pressas, não sem antes ter tirado dois dias de férias para diminuir o peso da estadia na casa dos amigos sem aviso prévio.
Conseguiu arrumar outra acomodação definitiva logo. Depois de duas semanas ele estava na casa nova, e resolveu perguntar como estava a família. A família estava melhor, então ele perguntou se podia pegar as coisas dele. Podia sim, mas ficaram sem entender pois não sabiam que ele não planejava retornar, então quando ele foi lá, anunciou que já havia se mudado, e que ia pegar umas coisas, mas como não tinha existido um adeus final, ele deixou algumas coisas lá ainda para apanhar depois e não ficar tão feio.
Então a família ofereceu a ele um jantar durante a semana para ele pegar o resto das coisas e se despedir, ainda meio tonta porque não esperavam sua reação definitiva assim, pra tão cedo. Afinal, para quem não estava procurando nada, ter arrumado acomodação temporária e também definitiva no espaço de duas semanas, parecia impossível para aquela família de críticos infundados. O que eles não consideraram foi que um profissional sério não pode ser deixado ao relento assim, e ainda ficar à mercê do humor das pessoas.
Rata aprendiz |
Disseram até que fariam um jantar do jeito que ele quisesse. Não obrigado, qualquer coisa está bom. Então fizeram um jantar com direito a sobremesa sofisticada, o que o deixou também sem entender. Seria para desculpar-se, ou para comemorar? No jantar, não se conversou nada proveitoso, só bobagens, como é de praxe.
Depois do jantar, nada de papo na sala como frequentemente havia acontecido durante aqueles 6 meses. Estavam embaraçados. Foi recolher as coisas e ir embora, que a rotina da casa continuava (aliás, uma rotina infernal para os padrões brasileiros, cheia de obrigações desnecessárias). E que se encontrassem algum dia destes por aí...
O interessante é que estas pessoas estão ligadas por certos laços de família com este nosso amigo...
Agora, em comparação, diremos como foi o arranjo que nosso amigo fez na casa de outros amigos, desta vez todos brasileiros. Lá ele foi recebido com braços abertos, eles também estavam com um quarto vazio e mobiliado, com banheiro próprio, mas não podiam acomodar nosso amigo por muito tempo por causa da família grande que vez por outra se hospedava lá, então este nosso amigo permaneceu duas semanas lá, até encontrar acomodação definitiva. Não admitiam pagamento, mas nosso amigo conseguiu deixar uma quantia “de presente” quando saiu pela manhã pra trabalhar e todos estavam ainda dormindo.
Lá ele foi recebido com jantar preparado pela dona da casa, e teve papos intermináveis e divertidos todas as noites na casa destes amigos. Esta casa era até mais confortável do que a outra, mas o padrão de recepção é que foi o mais importante, com o famoso calor humano brasileiro. Ganhou logo a chave da casa.
Quando se despediu, ouviu repetidas vezes que a casa estava à disposição para quando quisesse e precisasse de novo, era só telefonar e arranjar que dava-se um jeito. Esta era a despedida que ele estava esperando dos australianos também, que nunca veio. É este o padrão brasileiro de educação, e olhe que estes amigos não tinham parentesco nenhum com nosso amigo, todos eram apenas amigos de terem trabalhado juntos e descoberto coisas em comum na vida no Brasil.
Rata Elizete Terceira
Eu tinha uma amiga em Canberra. Surpresa? Pois é, eu consegui ter! Mas que amiga é essa, minha gente? Nem australiana ela é, é européia, mas digamos que assumiu direitinho o jeitão australiano de ser. Vai ver que é porque seu marido é australiano.
Pois bem, e qual é o “causo” dela?
Rata convicta |
Quando me mudei pra Sydney, nossa relação se modificou. Eu a visitava frequentemente, agora não poderia mais, porém o que acontece com amigos quando eles mudam de cidade? Bem, a maioria continua amiga se comunicando eventualmente por telefone, carta, emails, e a gente se revê nas férias.
Parece que achou que eu a traí ao sair de perto dela então ficou magoada, mesmo sabendo que sempre detestei viver em Canberra, e eu nunca havia escondido isto dela.
O resultado foi que ela não tem respondido meus emails com a devida atenção, as cartas, aos presentes que envio por portador, ou os cartões. O interessante e que ela é quem faz os próprios cartões de Natal que envia para os amigos todos os anos e eu sempre recebi o meu religiosamente, tenho 11 cartões dela, de todos os Natais que passei em Canberra. Este ano, por vingança (reação típica do australiano), ela não me enviou, nem mesmo um email, ou até uma mensagem pelo celular. Foi uma mensagem pelo celular o meu presente de aniversário este ano, tudo isso só por castigo por ter saído de seu lado. Isso é o que eu imagino, pois, como vou saber o que se passa na cabeça dela?
Porém, com essa atitude desta minha amiga, agora eu entendo o porque da reação dela de ignorar as filhas, só porque elas sairam de casa e mudaram de cidade. Ela faz questão de demonstrar que pouco está se importando, nem os netos ela faz questão de conhecer. Na minha opinião, isto é uma doença muito feia.
Rata de laboratório |
Afinal, quem está errada? No início eu achava que ela tinha criado filhas megeras que não ligavam pra mãe, mas hoje estou na mesma posição das filhas dela como se fosse mais uma, sofrendo sua reação provavelmente do mesmo jeito, reação de desprezo por eu a haver “abandonado”. Ela não parece ter ficado feliz com a minha felicidade de haver finalmente “escapado” de Canberra para uma cidade melhor de se viver. Seu amor de amiga me parece egoísta demais, que só pensa em si mesma, e esta é a tal “qualidade” fundamental do australiano.
Que espécie de amor ou amizade é esta? A pessoa só quer os outros ao seu redor, só pensa em si, e não se interessa pela felicidade do outro, nem mesmo das próprias filhas? É incapaz de usar outros meios a fim de manter a amizade, aprender novas tecnologias, a fim de superar a distância?
Que espécie de amor ou amizade é esta? A pessoa só quer os outros ao seu redor, só pensa em si, e não se interessa pela felicidade do outro, nem mesmo das próprias filhas? É incapaz de usar outros meios a fim de manter a amizade, aprender novas tecnologias, a fim de superar a distância?
A Austrália é cheia de ratas. Por isso eles estão tão frequentemente “embaraçados”, palavrinha que adoram.
Muitas vezes eu faço amizade com as mulheres australianas e elas se saem com cada uma que a amizade vai pro brejo rapidinho.